Roberto Numeriano é pós-doutor em Ciência Política.

Como ocorre em todo período de guerra, a reconversão de plantas industriais para o esforço de produzir armas massivamente deve ser considerada pelos governos dos estados nordestinos em face da epidemia do coronavírus.

Tratar-se-ia de adaptar as plantas de indústrias que, por exemplo, fabricam garrafas tipo PET, para que transformem o insumo da PET num tipo de máscara para todo o rosto, como um equipamento de EPI.

Assim também as indústrias têxteis podem adaptar suas plantas para a produção emergencial de batas e fardas destinadas ao pessoal dos hospitais e postos de saúde envolvidos diretamente no atendimento aos pacientes e para os próprios internados.

Os quadros prováveis da evolução do contágio no país, conforme a maioria dos especialistas em infectologia e várias autoridades sanitárias, apontam no momento uma provável infecção de dezenas de milhares de brasileiros, com um pico entre abril e maio.

Ora, a produção massiva de milhões de batas, fardas, luvas, máscaras, álcool-gel e ventiladores pulmonares é uma necessidade excepcional que deve ser encampada pelo Consórcio dos governadores do Nordeste.

Os gabinetes de crise do país devem cogitar proativamente a questão, pois se trata de prevenir e/ou mitigar a contaminação de milhares de brasileiros.

Esse esforço de “guerra pela vida” requer desde já discutir projeções de demandas desses materiais, sua distribuição, as empresas que deverão ser selecionadas, os meios de pagamento e isenções fiscais face à sua participação, a logística de distribuição do kit etc.

A proposta não se trata de uma opção, pois, como na guerra bélica convencional, se uma força inimiga está em marcha para o confronto diante das nossas tropas, não temos mais como escolher bater em retirada.

As diretrizes desse projeto coletivo de reconversão de plantas industriais podem ser formuladas e operacionalizadas apenas pelos governadores.

A condição “apenas” não é restritiva somente porque inexiste, da parte do Executivo federal, capacidade para coordenar um projeto social e econômico dessa envergadura. É restritiva porque, desde já, não há vontade política e liderança moral no Executivo, as quais pudessem propiciar confiança mútua entre as estaduais e a Presidência da República.

O conceito central do esforço deve se fundamentar no princípio de que os nove entes estaduais devem formular e gerir ações em conjunto, sob um regime cooperativo.

Os eixos desse esforço devem ser integrados por políticas e programas de caráter sanitário (prevenção ao contágio), médico (atendimento e mitigação dos efeitos da doença nos internados e/ou isolados em quarentena residencial), social (instituição de uma rede de apoio aos mais vulneráveis, infectados ou não, em situação de quarentena), e econômica (criação de um seguro-renda emergencial para desempregados e informais, lastreado,por exemplo, na cesta básica e bolsa-família).

Os estados dessa, por assim dizer, Federação do Sol, já reúnem bens de capital (máquinas e plantas industriais que podem ser reconvertidas em poucas semanas) e tecnologia social (sobretudo a base dados das camadas mais vulneráveis à epidemia) para responder às demandas emergenciais de todos os seus entes.

Essa tática de guerra pela vida se impõe porque, numa divisão equânime das várias demandas industriais e comerciais pelos diversos estados, a economia poderá produzir e salvar vidas.