Por José Paulo Cavalcanti Filho, em artigo enviado ao blog Palíndromo, nos dicionários, é “Frase ou palavra que se pode ler, indiferentemente, da esquerda para a direita ou vice-versa” (Houaiss).

Já um palíndromo com números seria capicua.

Segundo Orlando Neves (Dicionário da origem das palavras), viria de cap (cabeça) mais cu (isso mesmo, o rabo).

De lá para cá.

E de cá para lá.

Nessas férias de escrever, uma notícia que mereceu destaque foi 02/02/2020.

Uma data capicua.

Ainda considerando o fato de que, desde o começo do ano, se passaram 33 dias.

Outra capicua.

Só que a primeira dessas datas vem antes, 11/11/1111.

A próxima, 12/12/2121, terá uma característica adicional. É que, então, se terão passados exatos 333 dias desde o começo daquele ano.

Como no caso anterior, mais uma capicua.

Vindo, a seguinte, só em 03/03/3030.

Quando alguns de nós nem estaremos vivos.

Com palavras é mais divertido.

Primeiro palíndromo de que se tem notícia veio da Roma antiga.

E está em latim, SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS.

Algo como O semeador Arepo mantem o curso com atenção.

Segundo Napoleão Mendes de Almeida (Questões vernáculas), alguns reis incas tinham nomes palíndromos.

Como CAPAC.

E a doença de quem tem medo mórbido com palíndromos é AIBOFOBIA.

Um nome palíndromo, só faltava essa.

Afonso Arinos de Melo Franco deu, nessa linha, título a um livro: AMOR A ROMA.

Sofia Mariutti colecionou vários.

Como Ô PADRE, MEU, QUE MERDA, PÔ!.

O escritor Eno Teodoro Wanke (O livro dos palíndromos) chegou a publicar mais de 3 mil frases inteiras.

Do tipo E AMAMOS SÓ MAMÃE, A DROGA DO DOTE É TODO DA GORDA ou E ATÉ O PAPA POETA É.

Mesmo Chico Buarque se atreveu a fazer um, de gosto discutível, ATÉ REAGAN SIBARITA TIRA BISNAGA ERETA.

O iluminado mestre Secchin, da Academia Brasileira de Letras, desafiado, criou um na hora – ANA.

E, depois, riu.

Com esse título escreveu conto que acaba com SECO DE RAIVA, COLOCO NO COLO CAVIAR E DOCES.

E ainda repete outros.

Como O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO./ O MÍSSIL É BELÍSSIMO./ TEU DRAMA É AMAR DUETO./ IRENE RI./ A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA./ SÓ COM O TIO SOMÁVAMOS OITO MOÇOS./ ANOTARAM A DATA DA MARATONA.

Finalizando com aquele de que mais gosta, AME O POEMA.

Há palíndromos poéticos, como esse de Rômulo Marinho: ÁVIDO?

AMÁ-LA NA CAMA,/ NA MACA, NA LAMA, Ó DIVA! (Palíndromo do amor).

Que, depois, deu origem, ao Palíndromo do amor total: ÁVIDO?/ AMÁ-LA NA TABA, NO TOCO DA CASA,/ NO MURO, NO PAÇO, NA POÇA,/ NA MACA, NA LIVRE SALA,/ SERVI-LA NA CAMA,/ NA COPA, NO CAPÔ, NO RUMO,/ NA SACA DO COTO, NA BATA, NA LAMA…/ Ó DIVA!.

Há também, palíndromos idiotas.

Como OI, RATO OTÁRIO.

Engraçados, A PATETA AMA ATÉ TAPA.

Absurdos, A DAMA ADMIROU O RIM DA AMANDA.

Ridículos, como OLÉ, MARACUJÁ, CAJU, CARAMELO.

Ou SOCORRAM-SE, SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS.

Noutras línguas, também.

Em inglês: WHAT IT A CAT or A CAT I SAW?

E DRAWN ODE, LISTEN…/ NO SPACE RISES UP./ ONE POEM AND I, VIVID,/ NAME OPEN OPUSES./ I RECAP SONNETS I LED ONWARD (The Poet).

Ou espanhol: ANÚLALO, ESSE DESEAR ES SED./ RARO MAL ES EL AMOR: ARDES./ ¿SERÁ ESE DESEO LA LUNA?” (Oren).

Faltando só lembrar o amigo Millor, com A GRAMA É AMARGA.

E que, certa vez, me confessou qual seria, para ele, o palíndromo perfeito: A MAN, A PLAN, A CANAL, PANAMÁ.

O amigo leitor aproveite e, agora, faça também o seu.

Boa sorte." José Paulo Cavalcanti Filho é jurista.