Por Manoel Fernandes, diretor da BITES, em São Paulo Do início da tarde da última terça-feira, 11, até às 18h de sexta-feira, os deputados federais publicaram 9.644 posts em seus perfis oficiais no Facebook, Twitter, Instagram e Youtube.
Nesse contato com seus fãs e seguidores, os parlamentares alcançaram 11,7 milhões de interações (curtir, retúites, comentários e compartilhamentos).
Os assuntos abordados foram difusos com uma concentração expressiva em três temas: a morte do miliciano Adriano Magalhães, as declarações de Paulo Guedes sobre viagens de domésticas à Disney e o imbróglio da CPMI das Fake News.
No caso do miliciano foram 122 posts que alcançaram 291.868 interações.
Nos 372 posts sobre Guedes, a audiência gerou 460.533 que o deixou atrás do embate entre aliados do presidente Bolsonaro e integrantes da oposição no embate na CPMI das Fake News.
Foram 187 posts totais que alcançaram 873.179 interações nas redes oficiais dos deputados, o equivalente 6% do volume total do período.
O Sistema Analítico BITES identificou 127 posts em defesa da jornalista Patricia Campos Melo.
Foram publicados por 37 parlamentares e registaram 113.757 interações no período.
No campo dos apoiadores das declarações de Hans River contra a jornalista, as interações alcançaram 759.422, sete vezes mais que o movimento de defesa.
Dentro desse contexto de 60 publicações de sete deputados, 23 partiram da conta de Eduardo Bolsonaro.
Sozinho, o filho do presidente alcançou 50% das interações contrárias à jornalista.
A narrativa bolsonarista conseguiu maior propagação diante do conteúdo da oposição.
Um fato ajudou bastante esse desempenho.
Na sua maioria, os posts em defesa da jornalista e da Folha de S.
Paulo foram produzidos por perfis de petistas e aliados que esbarram no sentimento antipetista que ainda impera nas redes sociais.
Com exceção da deputada Tabata Amaral, Rodrigo Maia, Rubens Bueno, Marcelo Calero e Alexandre Frota, a defesa direta veio majoritariamente de legendas próximas ao PT.
O embate entre bolsonaristas e petistas permitiu a realização de mais um fla-flu das torcidas virtuais.
Nessas partidas que se tornaram rotineiras desde a eleição de 2018, a verdade perde lugar para o desejo de cada lado em jogar a bola o mais distante possível do adversário. É o que se refletiu, por exemplo, na propagação dos 1.459 artigos sobre o episódio por sites da mídia profissional e alternativos.
O campeão com 117 mil interações no Facebook e Twitter foi publicado no O Antagonista com o título “Ex-funcionário da Yacows entrega campanhas de Haddad e Meirelles.” O segundo colocado da Folha de S.
Paulo – Ex-funcionário de empresa de dísparo em massa mente a CPI e insulta repórter da Folha – alcançou 101 mil interações até hoje.
PS: o estudo foi publicado hoje na coluna da jornalista Flavia Lima, Ombudsman da Folha de S.
Paulo.
Sob o título “Às favas com a verdade”, ela analisou a repercussão da última sessão da CPMI das Fake News na qual a jornalista Patricia Campos Mello foi atacada por Hans River e uma sequência de perfis da rede bolsonarista.
Nota de repúdio aos insultos e insinuações desrespeitosas contra a jornalista Patrícia Campos Mello declarados na CPMI das Fake News O movimento Livres manifesta-se em solidariedade à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo e repudia os ataques e insultos proferidos por Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da Yacows, durante a CPMI das Fake News.
Patrícia Campos Mello foi a responsável por revelar que empresas estariam enviando mensagens em massa pelo WhatsApp durante as eleições de 2018.
Entre as empresas envolvidas na prática, que é ilegal, está justamente a Yacows.
O direito da jornalista de trabalhar e informar não pode sofrer tentativas de silêncio por ofensas e tentativas de censura.
Não é um caso isolado.
Infelizmente, todos os índices internacionais que medem a liberdade de imprensa apontam o Brasil como um país hostil à mídia profissional.
Na edição 2019 do levantamento da ONG Repórteres Sem Fronteiras, estamos na posição nº 105 entre 180 países, três posições abaixo em relação a 2018.
O último relatório anual da Freedom House destaca que o Brasil registrou 150 ataques a jornalistas, incluindo 4 mortes.
Já a ONG Artigo 19 classifica o Brasil como um país de alto risco para o exercício da liberdade de expressão, numa avaliação que leva em consideração 5 eixos: Imprensa, Transparência, Redes Sociais, Espaço Cívico e Instituições de Proteção.
A liberdade de imprensa é um pilar fundamental da democracia liberal.
O jornalismo profissional exerce papel essencial para a limitação do poder, fornecendo à sociedade informações apuradas com independência que ajudam a ancorar o debate público com referências confiáveis.
Populistas e autoritários desejam minar a credibilidade da imprensa porque o jornalismo sério ameaça seus projetos de poder.
O Livres repudia qualquer ataque à liberdade de imprensa e aos princípios constitucionais que sustentam a nossa democracia.