Por André Eler e Manoel Fernandes, da BITES O presidente Jair Bolsonaro continua sendo a principal força da política digital no Brasil.
No ano passado, enquanto os 513 deputados, os 81 senadores e os ministros do Poder Executivo registraram 1,1 bilhão de interações (retuítes, curtir, compartilhamentos e comentários) em seus perfis nas redes sociais, Bolsonaro, sozinho, alcançou 737,6 milhões.
Esse êxito de comunicação digital pode estar camuflando a tendência identificada pelo Sistema Analítico BITES.
Desde o segundo trimestre do ano passado, o volume absoluto de interações nos posts de Bolsonaro está caindo.
Situação semelhante ao que está acontecendo nos primeiros 42 dias de 2020.
No curto prazo nada muda para o presidente.
Apenas fica evidente a necessidade de um freio de arrumação e uma correção de rumo na sua estratégia digital.
No primeiro trimestre do ano passado, o presidente alcançou 214,2 milhões de interações em seus posts.
No segundo trimestre foram 199,9 milhões, queda de 7% em relação ao período anterior.
No terceiro trimestre, o patamar de interações ficou em 190,8 milhões.
A redução foi de 5% sobre o segundo trimestre.
O fenômeno de maior magnitude ocorreu no quarto trimestre quando Bolsonaro registrou 132,5 milhões de interações e uma queda de 31% sobre os três meses anteriores.
Na comparação do primeiro e quarto trimestre, a queda ficou em 38%.
Há possibilidades para entender essa erosão na capacidade do presidente de amplificar suas mensagens.
A primeira delas envolve a acomodação natural da sua base, que já não encontra tantos motivos para interagir com o conteúdo porque considera que as grandes ameaças, entre elas Lula e o PT, ficaram no passado.
Uma espécie de descanso após a vitória em 2018.
Mas, esse modelo de pensamento é arriscado porque toda a estratégia de comunicação de Bolsonaro está fundamentada na narrativa sem intermediários, especialmente a mídia profissional.
A Internet é o oxigênio do seu mandato e as interações seu canal de distribuição de longo alcance.
Como na eleição de 2022, o presidente se apoiará novamente nas ferramentas digitais, uma correção de rota agora é fundamental para não chegar debilitado na disputa.
Uma segunda perspectiva aponta que sem fatos polêmicos para envolver a sua base em um fla-flu, como a necessidade de aprovação da reforma da previdência, a propagação de Bolsonaro fica restrita aos dois grupos de seguidores mais fiéis: evangélicos e defensores de uma política de segurança mais dura.
Antipetistas e liberais pró Paulo Guedes que embarcaram na candidatura em 2018 não têm mais os mesmos motivos para amplificar as mensagens presidenciais.
Ex-presidente Lula (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula) Ex-presidente Lula As interações do presidente só voltarão a crescer com a existência de uma ameaça real capaz de modificar o eixo de poder no País.
Um inimigo declarado, como Lula.
No caso do petista, ele está recuperando fôlego na geração de interações nos seus posts.
Em média, considerando os últimos 12 meses, as mensagens de Bolsonaro propagam 15 vezes mais do que aquelas produzidas pelo ex-presidente Lula.
Entre o primeiro e o segundo trimestre do ano passado, a taxa de Lula cresceu 27% para cair 19% no terceiro e voltar a subir no quarto, após a sua liberação da prisão, para 121%.