A deputada federal Marília Arraes reagiu ao presidente do PT do Recife, Cirilo Mota, que convocou uma reunião para esta quarta-feira (15) para apresentar “importante resolução” da executiva na capital pernambucana.

Aliado do senador Humberto Costa, Cirilo Mota falou sobre um indicativo para que os petistas se mantenham na Frente Popular, com o PSB.

Se essa fosse a decisão final para as próximas eleições, o partido não lançaria a candidatura da deputada federal Marília Arraes e apoiaria o primo dela João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos. “O caminho que a executiva do PT encaminha para o debate é um caminho de aliança”, afirmou Cirilo Mota ao Jornal do Commercio, nesta quarta.

Veja as reações de Marília Arraes abaixo.

O posicionamento sobre a resolução “Respeito o posicionamento tanto de Cirilo quanto de quem tem esse direcionamento.

Mas o nosso posicionamento é diferente e nós vamos fazer de tudo para que prevaleça a posição de independência do partido, que é de ter uma candidatura própria, não pode o PT ser o protagonista nacional a oposição a Bolsonaro e ficar como linha auxiliar de outro partido em um estado importante como é Pernambucano, mas é essencial nessa discussão destacar que a decisão sobre as capitais e a estratégia eleitoral das capitais vai ser tomada nacionalmente”.

Executiva Nacional “A Executiva Nacional vai ter a sua definição de composição essa semana, estou indo a São Paulo amanhã, para participar da posse do diretório nacional, e a gente vai ter acesso, vai saber quem vão ser os nomes que vão compor a Executiva Nacional, o GTE Nacional e a partir dai, saber o que o PT pensa para as capitais.

Foi o que aconteceu em 2018, o partido estadualmente definiu por ter uma candidatura própria.

Mas nacionalmente, ele considerou que para a estratégia partidária nacional, deveria ter uma aliança com o PSB.

Por isso, nós não tivemos a candidatura.

Mas agora é um contexto totalmente diferente.

A gente está vivendo em um momento que o PT tem chances de ganhar a eleição em poucas capitais do Brasil, o Recife é uma delas.

Há esse precedente de 2018, que já aconteceu uma vez e a gente tá pontuando bem nas pesquisas e o partido definir por uma estratégia diferente.

Dificilmente esse raio cai duas vezes no mesmo lugar e fora que a estratégia nacional do partido tem se alinhado, pelo discurso do presidente Lula, e das principais lideranças nacionais de que é importante que a gente tenha candidatura nas principais cidades do Brasil, não somente nas capitais, mas também nas grandes cidades.

Tudo indica que nacionalmente vai se direcionar para esse caminho de ter uma candidatura própria. É claro que a gente quer que haja o mínimo de fragmentação possível e que haja menos danos a unidade interna do partido do que houve em 2018”.

Oposição ao PSB “Me mantenho na oposição ao PSB, não apoiei o candidato do PSB ao governo, não fiz campanha para o candidato do PSB ao governo, não indiquei absolutamente nenhum cargo para compor governos do PSB.

Então, discordo desse posicionamento dele, apesar de respeitar e achar que ele tem o direito de se expressar.

Agora, não vejo vantagem em se tornar linha auxiliar de um partido quando você tem potencial para ser personagem principal, e também não vejo uma secretaria ou duas secretarias, uma secretaria no estado, outra no município.

Não vejo isso como algo relevante para um partido que tem um protagonismo nacional, uma estratégia nacional como o PT”.

O debate sobre aliança desgasta o partido? “Faz parte, é o que faz o PT se manter vivo, ter essa vida interna tão pujante, é isso que faz o PT ter o tamanho que tem, é a democracia interna.

Essa decisão será tomada na hora correta e com tempo hábil para a gente formar uma candidatura e chapa competitiva e disputar bem essa eleição”.

Sobre um dia apoiar o PSB ou a candidatura de João “Eu não vejo hoje uma justificativa política para se apoiar o PSB, estamos na oposição há anos e o PSB não mudou sua forma de gestão, de diálogo, o que vimos foi uma leve mudança por interesse em manter o núcleo de poder que era Pernambuco, foi uma mudança puramente pragmática para se manter no poder.

O PSB saiu do Foro de São Paulo, eles tem seus problemas internos que não deixa que eles tomem posição consolidada em relação a temas importantes ao país.

Por exemplo, quantos deputados do PT não foram a favor da Previdência?

Não vejo justificativa política para se apoiar o PSB, não acho que é uma boa gestão para a cidade do Recife, não acho que o governo do Estado esteja sendo bom.

Não acho que justificativas eleitoreiras e pragmáticas sejam suficientes para que a gente mude de oposição”.

Entenda a polêmica A entrevista do PT do Recife aconteceu um dia após o Blog de Jamildo publicar a articulação do PSL de Luciano Bivar, após o rompimento com Jair Bolsonaro, para voltar a se aliar ao PSB.

O presidente do PT na capital pernambucana apresentou ao JC o texto de uma resolução aprovada no último dia 8, em que a executiva municipal defende o apoio aos socialistas e a prioridade à formação de uma chapa de vereadores.

De acordo com Mota, o objetivo é de dobrar o número atual, que é de dois parlamentares, com João da Costa e Jairo Britto.

Além deles, que são pré-candidatos à reeleição, a chapa deve incluir o ex-vereador Osmar Ricardo, e a presidente do Sindicato dos Bancários, Suzaneide Rodrigues, por exemplo.

A resolução defende também a participação do PT nos governos Geraldo Julio, através da pasta de Saneamento, e Paulo Câmara, com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, a Empresa Pernambucana de Transportes Intermunicipais (EPTI) e a Secretaria Executiva de Desenvolvimento Social.

Para Cirilo Mota, a aliança é ainda uma estratégia contra os possíveis candidatos de direita. “Nossa principal tática é derrotar o governo Bolsonaro”, explicou.

Humberto Costa usa o mesmo argumento.

Mota alegou também que a aliança com o PSB foi vitoriosa em 2018. “Foi nesse campo de aliança que os governos do PT se elegeram, com João Paulo [hoje no PCdoB, após romper com os petistas por causa da divisão do partido entre lançar ou não Marília Arraes para o Governo de Pernambuco] e João da Costa”, disse o presidente do partido no Recife.

Na última eleição, quando a candidatura de Marília Arraes foi retirada para viabilizar o retorno do PT à aliança, Humberto Costa foi reeleito para o Senado e a parlamentar e Carlos Veras para a Câmara dos Deputados.

Na mesma chapa que Humberto Costa, foi eleito Jarbas Vasconcelos (MDB), opositor dos petistas.

PT e PSB romperam no Recife em 2012, quando Eduardo Campos aproveitou um racha no partido, que não lançou João da Costa à reeleição, para viabilizar a candidatura de Geraldo Julio.

Em 2014, o PT entrou na chapa de Armando Monteiro Neto (PTB), formando a coligação também na chapa proporcional, e não conseguiu eleger nenhum deputado federal.

Já em 2018, também dividido após a desistência da postulação de Marília Arraes, os petistas formaram uma chapa “puro sangue”.

Para 2020, a deputada tenta viabilizar a candidatura à Prefeitura do Recife.

Quando visitou o Recife após ter sido solto, em novembro, o ex-presidente Lula (PT), visitou Marília Arraes.

Porém, se encontrou também com João Campos.