O arquipélago de Fernando de Noronha, a 545 km da costa do Recife, voltou a ser alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última semana.

Desta vez ele disse que o turista deve “pensar bem” se quiser ir para o destino.

Bolsonaro continuou afirmando que o visitante “vai ser escalpelado” por conta dos preços cobrados para acessar praias protegidas e que existem diversas multas que não deixam o turista “fazer nada”.

As acusações do presidente foram feitas na última quinta-feira durante uma transmissão ao vivo no seu perfil do Facebook.

No vídeo, ele trata sobre diversos temas, mas após os 26 minutos começa a falar sobre hotelaria.

Neste momento, afirma que o Brasil é ótimo país para o turismo, mas que é preciso “saber fazer”, pois estaria faltando estímulo ao turista.

Em seguida, emenda falas sobre o arquipélago, que em 2018 recebeu 103.548 visitantes.

Os números de 2019 ainda não foram contabilizados. “Vão tirar teu escalpo em Fernando de Noronha.

Toma cuidado, liga antes. (São) R$ 200 para ir à praia, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo. É multa para tudo quanto é lado”, criticou Bolsonaro.

Em julho de 2019 o presidente da República já havia chamado as taxas cobradas de “roubo”, criticando o ingresso pago para acesso às praias do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, administrado através do modelo de concessão pela Econoronha.

No mesmo mês, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi ao arquipélago, mas ao final da visita acabou silenciando sobre as cobranças.

Três meses depois, o governo federal decidiu reajustar o valor deste e de outros nove parques federais.

Desde novembro, o valor cobrado aos turistas brasileiros passou de R$ 106 para R$ 111.

Já os estrangeiros que pagavam R$ 212 passaram a pagar R$ 222.

O valor dá direito a dez dias de acesso a praias com Sueste, Sancho e Atalaia.

As demais áreas da ilha, que não fazem parte do parque, têm acesso gratuito.

Na transmissão, Jair Bolsonaro ironiza os cuidados dos ambientalistas com a fauna local.

Ele diz que uma torre de energia eólica foi desativada após um passarinho ser encontrado morto.

Dora, no entanto, esclarece que o equipamento ficou inutilizado após ser atingido por um raio durante uma tempestade. “A comunidade nunca foi contra a energia limpa”, rebate a presidente do Contur.

Outra crítica do presidente foi de que existe uma “geradora de energia à óleo que carrega a bateria dos carros elétricos”.

Sobre o tema, a Administração da Ilha informou, em nota, que “em fevereiro começa a funcionar o primeiro Ecoposto público, à base de energia solar, para abastecimento de carros elétricos – muito menos poluentes, mesmo que não sejam abastecidos por fontes de energia limpa.

O próximo passo da gestão estadual, em Noronha, é a mudança gradual da matriz energética da Ilha, para que em 2030 toda ela funcione com energia renovável”.

Jair Bolsonaro concluiu sua fala sobre o arquipélago pernambucano dizendo que tem conversado com o ministro Ricardo Salles e que novas concessões “acabam com essa brincadeira”. “Dá vontade de entrar com uma ‘voadora’ lá na ilha, mas a gente não pode fazer isso aí”, concluiu o presidente.

Foto: Júlio Dutra/Divulgação Felipe Carreras “Infeliz.

Está é a avaliação mais branda que podemos dar à fala do presidente Bolsonaro sobre Fernando de Noronha.

Como cidadão noronhense, amante da Ilha, do turismo e deputado federal mais votado no Arquipélago, não podemos permitir que o povo noronhense e pernambucano sofra tamanha agressão e falta de respeito.

Não é porque existe uma concessão ao ICMBio, feita há anos, que pode até mesmo ser questionada, que vamos rotular Fernando de Noronha como um local onde os visitantes são “escalpelados”, como ele afirmou”. “O presidente da República tem o papel de resolver os problemas que identifica e não sair publicamente, em rede social, falando mal do País e de um dos seus principais destinos turísticos.

Criticar por criticar, sem apontar uma solução, só mancha o destino.

Noronha é patrimônio de Pernambuco, do Nordeste e do Brasil.

Que o presidente trabalhe em favor do nosso destino e não se dedique a acabar com o nosso turismo.

Estamos à disposição para contribuir cada dia mais com o crescimento da Ilha.

Mas é preciso ter inteligência para tratar o assunto e não sair falando de forma descuidada, irresponsável e sem nenhum tipo de solução para o assunto”, disse Felipe Carreras.

Em nota, a Administração da Ilha disse que “a respeito da cobrança de taxas federais aos turistas, como a mesma não compete à administração local, seja a definição de valores ou a sua aplicação, acreditamos que seja tema para pronunciamento do Ministério do Meio Ambiente, pois são recursos recolhidos pelo governo federal”.

Vale ressaltar que o governo de Pernambuco ainda cobra R$ 75,93 por dia de permanência.

As declarações de Bolsonaro incomodaram o Conselho de Turismo (Contur) de Fernando de Noronha.

A presidente do órgão, Dora Martins, disse que o presidente “não sabe sobre o que está falando”.

Ela reforça ainda que tem tentado manter um canal de diálogo com o presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, para esclarecer dúvidas sobre a ilha. “Ele (Bolsonaro) tem que entender quais são os custos da ilha, de como é o funcionamento da ilha.

No vídeo, ele coloca os ministros do Meio Ambiente e do Turismo, assim como o presidente da Embratur, à disposição da comunidade Noronha para o caso de ele estar falando algo errado.

Queremos esse contato.

Seria ótimo recebê-lo aqui e mostrar o paraíso que é Noronha”, comenta Dora.

A concessionária Econoronha foi procurada pela reportagem do Jornal do Commercio mas preferiu não se pronunciar.

O contrato de licitação firmado com a empresa tem validade de 15 anos e segue até 2025.