Por José Paulo Cavalcanti Filho, em sua coluna na página do JC Em outubro, quando o português José Tolentino Mendonça foi confirmado Cardeal, disse ao Papa: “Santo Padre, o que é que me fez?”.

E completou: “Eu sou só um pobre padre”.

E Francisco lhe pediu: “Então, partilhe sua pobreza conosco”.

Assim seja.

E comemoro esse fim de ano em uma espécie de partilha fraterna.

Dividindo, com o leitor, palavras de um homem sábio.

Em frases, pequenas lições, do seu último livro (Uma beleza que nos pertence).

Aqui vão: ALEGRIA: Retomemos a alegria.

A meio deste percurso que é nossa vida, busquemos as suas secretas fontes.

AMIZADE.

A amizade é uma experiência sustentada pelo perdão.

AMOR.

O amor é mais uma exposição do que uma posse; é mais uma súplica do que um dado; é mais uma sede do que uma barragem; é mais uma conversa de mendigos do que um diálogo de triunfados.

CHORAR.

Talvez saibamos ainda pouco sobre esse misterioso país que são as nossas lágrimas.

Elas não narram o desejo de morrer, mas nossa sede de vida.

INFINITO.

Provimos de um horizonte e de circunstâncias que nos transcendem.

O infinito que nos cabe viver é sempre um infinito ferido.

E é bom que seja assim.

LUTO.

O luto é a separação entre céu e terra.

MÃE.

A coisa no mundo mais parecida com os olhos de Deus são os olhos de uma mãe.

NÃO CRENTES.

Sobre Deus e o caminho espiritual, faz-nos bem a nós, crentes, escutar os não crentes.

Posso dizê-lo por mim próprio: ensinam-nos tanto.

OUTROS.

Nós só perdemos aquilo que não damos.

PERDÃO.

O esquecimento não é condição para o perdão.

Podemos perdoar mesmo aquilo que não pode ser esquecido.

REZAR.

São os nossos corpos que rezam, não apenas o pensamento.

SABOREAR. À volta de uma mesa reconhecemo-nos melhor a alimentarmo-nos, mutuamente, com um alimento invisível: o da relação.

SOLIDÃO.

A cultura contemporânea deixou de nos preparar para a solidão.

SONHO. “O sonho define o personagem”, escreveu Shakespeare.

E não há homem algum que não saiba que ele tem razão.

TEMPO.

A velocidade com que vivemos impede-nos de viver.

Uma alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo.

Por tentativas, por pequenos passos.

VIDA.

Precisamos cair de joelhos perante o espetáculo desabalado e divino que é a vida, por mais frágil que seja.

P.S.

Bons anos a todos, com o coração.

Na esperança de que realize ao menos parte dos sonhos mais fundos de todos nós.

Seja pleno de bons presságios.

E nos traga paz.