Por José Paulo Cavalcanti Filho, em coluna publicada na edição desta sexta-feira (22) do Jornal do Commercio Jean de La Fontaine (1621/1695) estudou teologia, serviu ao grande Fouquet, mas acabou famoso mesmo foi ao publicar Fábulas Escolhidas.
Membro da Academia Francesa, está sepultado ao lado de Molière no Père-Lachaise.
Uma de suas mais conhecidas fábulas, O Lobo e o Cordeiro, conta história de cordeiro que bebia num riacho.
O lobo, faminto, reclama: “Como é que tem coragem de sujar a água que eu bebo?” O cordeiro explicou ser impossível, “por beber uns 20 passos mais abaixo”.
O lobo diz “Você andou falando mal de mim no ano passado”.
E o cordeiro, “No ano passado eu ainda não havia nascido”. “Se não foi você foi seu irmão”. “Mas sou filho único”.
Não adiantou.
E acabou sendo almoço do lobo.
Só que o mundo gira.
E fosse contada hoje, aqui no Brasil, a fábula teria que ser alterada.
Nessa versão atual, adaptada para os novos tempos, o lobo não iria usar argumentos tão singelos como os de La Fontaine.
Tudo seria mais sofisticado.
Para começar, providenciaria gravações ilegais com acusações comprometedoras.
De que o cordeiro pretendia privatizar o rio.
De que iria censurar a imprensa.
De que preparava um golpe.
Por aí.
O cordeiro, desconfiado, pede que mostre as gravações.
O lobo informa que o sigilo da fonte lhe dá o direito de não mostrar nada.
O cordeiro diz que gravações ilegais não valem como prova.
E o lobo apenas exibe recortes de jornais, após o que declara “Se saiu nos jornais é verdade”.
No Supremo da Floresta, ministros condenaram o pobre cordeiro.
Dizem até que eram lobos disfarçados.
Sendo ou não, inatingíveis e felizes, aproveitaram para soltar um monte de lobos presos.
Pelos mais variados crimes.
De corrupção a cordeiricídio.
Fosse pouco e o Lobo Maior (assim era conhecido, por lá, seu presidente) requisitou 600 mil fichas dos moradores da região.
Mas, suspeita-se, queria ver só as dos cordeiros.
Para condenar outros.
O maior número possível.
A moral dessa história, segundo La Fontaine, é que “a razão do mais forte é sempre a melhor”.
Continua valendo, ainda hoje.
Mas, nos dias que correm, há uma moral secundária.
A da verdade pós-moderna.
Segundo a qual mais importante que ter razão é dizer que tem razão.
Em declarações a jornais, televisões, comícios e caravanas.
E esta moral poderia ser: “Faça barulho, o mais possível, que nas eleições muita gente vai acabar acreditando”.