Por Rogério Morais, professor e diretor-executivo de Planejamento da Secretaria de Educação do Recife Dados atuais, divulgados na primeira quinzena de outubro, apontam crescimento da desigualdade no país.
A PNADC, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, apontou que em 2018, o 1% dos trabalhadores mais ricos (900 mil pessoas) teve renda média 33,8 vezes maior que a média dos mais pobres (45 milhões), recorde da série histórica, medida desde o ano de 2012.
A desigualdade cresce no Brasil e bate recordes, porque desde 2015 o país vive uma crise econômica sem precedentes.
Nunca, desde que se acompanham os indicadores econômicos no Brasil, passamos por uma série de 4 anos de estagnação.
As maiores crises duraram no máximo 2 anos consecutivos, como em 1929 e 1930, Crise do Café no Brasil e “Grande Quebra” do mercado americano.
E é justo na crise, que ricos mantêm ou crescem seus ganhos e os pobres são os únicos sacrificados, perdendo percentuais significativos na renda média.
Assim, quando a economia castiga, pressionamos ainda mais os direitos das gerações futuras, os mais impactados em períodos de crise.
A primeira infância das crianças nascidas nesta era crítica da história brasileira, certamente estão vivenciando um contexto de maior dificuldades em seus seios familiares, pela falta de renda, o que afeta emprego, alimentação, a qualidade da moradia, entre outros fatores.
Em outras palavras, desigualdade gera desigualdade, ou seja, mesmo que em 2020 a economia comece a se recuperar, estes 4 anos terão causado sérias consequências no futuro das crianças que viveram este desastre histórico.
Contudo, quero chamar atenção para olharmos além da desigualdade econômica.
Lembro-me, nesta situação, de uma frase do nosso Dom Helder Câmara, que dizia: “são os problemas mais absurdos que se tornam os mais apaixonantes”. É justo nos maiores desafios que esperamos uma reação social, uma comoção que mova energias coletivas contra os desequilíbrios.
Entretanto, parece que o que vivemos não é apenas uma desigualdade econômica.
Há uma concentração de individualismo, de egoísmo, de falta de espírito de sociedade.
Quando focamos nossos projetos de vida no sucesso individual e não percebemos que não vivemos “no vácuo”, que a violência da esquina é decorrente do sistema o qual fazemos parte e contribuímos para o desequilíbrio, parece estarmos surdos e cegos quanto ao nosso papel para o todo.
O filme Coringa (Joker, em inglês), do diretor Todd Philips e de memorável atuação do ator principal Joaquim Phoenix, ilustra iconicamente este tipo de cenário social e econômico.
A perspectiva não diminui a responsabilidade do criminoso, mas deixa claro a co-responsabilidade da sociedade na construção do caos urbano, principalmente dos ricos, concentrados em seus planos pessoais e omissos à realidade.
A fotografia deixa reflexões, inquieta, cumpre os objetivos da arte e, espera assim, uma reação para enfrentarmos nossos problemas com mais humanidade.