Por Luciano Siqueira (PCdoB), vice-prefeito do Recife, em artigo para o Blog O repórter Carlos Drummond, da revista CartaCapital, em matéria recente, caracterizou o presidente Jair Bolsonaro como “mascate de bens públicos”, denunciando a desfaçatez como o governo se empenha em liquidar empresas estatais estratégicas para o desenvolvimento nacional.

E não se trata de decisão decorrente do evidente despreparo do presidente, mas de uma determinação de sua equipe econômica empenhada na agenda ultraliberal, destinada a aprofundar a vulnerabilidade do Brasil face a pressões externas.

Num mundo às voltas com impasses no desenvolvimento do sistema econômico dominante, que se arrasta em crise estrutural desde 2008, o Brasil jamais poderia abrir mão de sua soberania sobre recursos naturais.

No caso da Eletrobras, como bem assinala Ildo Sauer, professor da USP e ex-diretor da Petrobras, em entrevista à revista daquela Universidade, as usinas hídricas demandam controle do curso d’água, que é bem estratégico segundo a lei brasileira.

Nenhum país que usa energia hidrelétrica privatiza sua produção.

Compreensível o interesse estrangeiro em relação à abertura escancarada que o governo promove.

Detemos a maior reserva de água doce do mundo, cerca de 12% do total disponível do planeta, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

Dispomos de 12 bacias hidrográficas, onde quedas d’água são recorrentes.

Tecnicamente, a diferença de altura entre um ponto e outro dos rios transforma energia potencial em velocidade, ocasionando aceleração.

As usinas hidrelétricas se aproveitam do fenômeno para movimentar suas turbinas.

Assim, a gravidade produz 63,75% da energia brasileira, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Como os demais países tratam o assunto?

Sauer cita dois exemplos emblemáticos: nos EUA, as usinas hidrelétricas são mantidas sob o controle público, por meio da Tennessee Valley Authority (uma corporação de propriedade federal); na China, detentora da maior produção mundial, o sistema é completamente estatal.

Péssimas para o desenvolvimento nacional as intenções do governo federal.

Aviltam a nossa soberania.

E o grave é que a composição atual da Câmara dos Deputados e do Senado – predominantemente despreparada para o tema ou tomada de concepções rasteiramente entreguistas - não sugere resistências, salvo da minoria oposicionista.

E não há, na grande mídia, opiniões críticas.

Tal como ocorre hoje em relação aos desmantelos jurídicos e éticos da Operação Lava Jato, a nação não pode acordar tarde demais para a agenda de privatizações lesiva à soberania e sabotadora de nossas possibilidades de desenvolvimento independente.