A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) neste domingo (8) para proibir a apreensão de livros na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. “O ato da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro discrimina frontalmente pessoas por sua orientação sexual e identidade de gênero”, afirma no documento.

Tudo começou na última quinta-feira (5), quando o prefeito Marcelo Crivella (PRB) pediu que a organização da Bienal recolhesse o livro “Vingadores, a cruzada das crianças”.

Em vídeo publicado no Twitter, afirmou que a determinação foi sobre “livros com conteúdos impróprios para menores”.

Um dia depois, o desembargador Heleno Ribeiro Pereira Nunes, da 5ª Câmara Cível, acatou um mandado de segurança da Bienal, impedindo o cumprimento da ordem do prefeito.

Nesse sábado, (7) porém, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, o desembargador Claudio de Mello Tavares, autorizando o recolhimento de livros.

A medida do Ministério Público Federal (MPF) é contra essa decisão.

Pessoal, precisamos proteger as nossas crianças.

Por isso, determinamos que os organizadores da Bienal recolhessem os livros com conteúdos impróprios para menores.

Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades. pic.twitter.com/sFw82bqmOx — Marcelo Crivella (@MCrivella) September 5, 2019 A história em quadrinhos foi publicada em 2010 e conta a história do casal Wiccano e Hulkling.

Os dois aparecem abraçados e a polêmica envolveu um beijo entre eles.

Imagem: reprodução Pelo Instagram, o ilustrador Jim Cheung criticou Crivella. “A cena meramente mostra um momento carinhoso entre dois personagens que estão em um relacionamento estável”, afirma. “A comunidade LGBTQ está aqui para ficar, e não tenho nada além de amor e apoio por aqueles que lutam por validez e uma voz a ser ouvida”.

Ver essa foto no Instagram Teddy & Billy (2019) .

It was with great surprise today, to learn that the mayor of Rio de Janeiro decided to ban the sale of my (and Allan Heinberg’s) book, Avengers:The Children’s Crusade, for alleged inappropriate material. .

For those not familiar with the work from 2010, the controversy involves a kiss between two male characters. .

Now I don’t know what prompted the mayor to seek out a work that is almost a decade old, and that had already been on sale for many years, but I can say honestly, that there was no hidden motivation or agendas behind the work in promoting any particular lifestyle, nor targeting any unique audience.

The scene merely depicts a tender moment between two characters who are in an established relationship. .

As an artist, my passion is to tell stories; stories of great heroism, compassion and love, with as authentic and diverse characters as possible.

Characters that depict every walk of life and color, whether they be black or white, brown, yellow or green. .

The fact that this book, from almost a decade ago, is now being drawn into the spotlight by the mayor perhaps only highlights how out of touch he might be with the current times.

The LGBTQ community is here to stay, and I have nothing but love and support for those who continue to struggle for validity and a voice to be heard. .

I hope the beautiful people of Brazil, the wonderfully diverse and proud nation, will see through this political ’noise’ and place their focus on the light, and on ways to unite, rather than help sow the seeds of conflict and division . #TeddyAltman #Hulkling #BillyKaplan #Wiccan #YoungAvengers #AvengersChildrensCrusade #MarvelComics #Marvel #Comics #MCU #pencils #pencildrawing #process #JimCheung #LoveNotHate #LGBTQ Uma publicação compartilhada por Jim Cheung (@jimcheungart) em 6 de Set, 2019 às 12:40 PDT Para Dodge, a decisão de recolher os livros “ofende a igualdade que pauta a convivência humana”. “Além disso, a medida também ofende a liberdade de expressão e o correlato direito à informação”, afirma a procuradora-geral da República. “A Bienal do Livro representa claramente evento no qual os autores e autoras, leitores e leitoras, exercitam tais direitos, que não podem ser cerceados pela alegação genérica de que tratam de ’tema do homotransexualismo'.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não deve ser aqui invocado, uma vez que o tema em questão não é, per se, ofensivo a valores éticos, morais ou agressivos à pessoa ou à família”, diz ainda. “Trata-se, na verdade, de censura genérica à abordagem de um determinado tema, o que é inadmissível de acordo com a Constituição de 1988”.

Ao derrubar a liminar que proibia os livros, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio afirmou que “não houve impedimento ou embaraço à liberdade de expressão, porquanto, em se tratando de obra de super-heróis, atrativa ao público infanto-juvenil, que aborda o tema da homossexualidade, é mister que os pais sejam devidamente alertados, com a finalidade de acessarem previamente informações a respeito do teor das publicações disponíveis no livre comércio, antes de decidirem se aquele texto se adequa ou não à sua visão de como educar seus filhos”.

A Bienal do Rio anunciou pelas redes sociais que iria recorrer ao Supremo, “a fim de garantir o pleno funcionamento do evento e o direito dos expositores de comercializar obras literárias sobre as mais diversas temáticas – como prevê a legislação brasileira”.