Por Terezinha Nunes (MDB), ex-deputada estadual Lava Jato, prisões, protestos nas ruas, pressões de todos os lados e uma campanha eleitoral calcada no radicalismo.

Todas essas facetas sacudiram o ambiente politico brasileiro de 2014 para cá, levando a classe política – tida como a grande responsável por uma onda de corrupção sem tamanho - a um desgaste que está longe de ser vencido.

A persistência do ambiente conturbado continua mesmo após a posse do atual presidente que insiste, assim como seus oponentes mais radicais à esquerda, em manter viva a polarização que tem obrigado a população a segurar a respiração no limite sempre à espera de uma nova crise.

Uma luz no fim do túnel, porém, tem sido um alento e uma esperança em meio a tanta confrontação : o Congresso Nacional, que ainda bate recordes de impopularidade, conforme têm mostrado seguidas pesquisas, resolveu cumprir o seu papel e é hoje, por incrível que pareça, a instituição mais equilibrada nessa maré de turbulências que temos enfrentado.

Apesar de alguns escorregões como foi o caso da aprovação, nas caladas da noite, de uma lei de abuso de autoridade contestada de norte a sul, deputados e senadores tomaram para si a responsabilidade na aprovação das reformas desejadas há décadas e têm agido com absoluta inteireza sempre que o executivo ou mesmo o judiciário passam dos limites.

Jamais se imaginaria que, em pouco mais de seis meses, a Câmara dos Deputados conseguisse aprovar a Reforma da Previdência e, logo em seguida, se debruçasse, com a mesma vontade de acertar, na Reforma Tributária, demonstrando que está disposta a manter sob seu comando o leme de um barco que ameaça ficar à deriva a cada arroubo verborrágico da figura presidencial.

Isso ficou patente no momento recente em que queimadas na Amazônia provocaram uma crise internacional.

Em meio às turbulências soou muito bem aos ouvidos da Nação a iniciativa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de anunciar a composição de uma força tarefa de deputados disposta a ir aos parlamentos europeus jogar água na fervura, assumindo o compromisso de não aprovar leis que posam vir a autorizar o desmatamento da nossa principal floresta, hoje tida como fundamental na preservação de um dos principais eco-sistemas do planeta.

Há bem pouco tempo seria difícil acreditar que o Congresso Nacional chegasse ao protagonismo experimentado neste momento.

Mas o progresso neste campo tem sido tanto que, apesar de tudo, empresários e economistas não escondem de ninguém que as reformas vão prosseguir e o país cedo ou tarde deixará a crise para trás porque deputados e senadores estão e vão continuar cumprindo o seu papel.

O que levou o Congresso a esse momento tão propicio ?

Como diria Ulisses Guimarães “ o que um politico mais teme é povo nas ruas “ e nunca tivemos tantas manifestações no país como nos anos recentes.

Há, porém um outro componente a ser considerado.

Como enfrentamos talvez a maior crise da nossa história e o presidente não tem base congressual nem está disposto a formá-la, o vácuo tem sido preenchido pelo parlamento no qual se sobressai o presidente da Câmara hoje tido como uma espécie de primeiro-ministro sem pasta.

Bolsonaro, sem querer, colocou os parlamentares em seus devidos lugares, legislando e abandonando os améns de anos atrás que tanto infelicitaram o país quando o executivo ditava as normas, obrigava sua base no Congresso a aprovar projetos sem discussão e, talvez por isso, a corrupção acabou correndo solta.

Se continuarem andando certo mesmo que, às vezes, por linhas tortas, deputados e senadores, cedo ou tarde, serão reconhecidos pela população, o Congresso pode recuperar sua popularidade e a politica, fundamental para manter viva a Democracia, não vai nos levar ao paraíso mas perto dele, sem dúvida, podemos sonhar em chegar.