O ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão afirmou, em entrevista ao Jornal do Commercio, que há um grupo no governo Jair Bolsonaro (PSL) com visão “obscurantista e autoritária” da ciência. “Isso infelizmente acoplado a outra coisa que é o pensamento ideológico de que toda a comunidade científica está dominado pela esquerda, aparelhada, como dizem, traz prejuízo”, afirmou. “Em várias ocasiões falava ‘por que não consultam a sociedade brasileira de física?’, por exemplo, e a resposta era de fazer chorar: ‘nós não fazemos isso porque sabemos que a resposta virá aparelhada pela esquerda’.
Essa visão e o preconceito são muito ruins para o País.
Mas não é todo o governo”, disse.
Galvão defendeu o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
PROJETO COMPROVA » Saiba como são feitas as medições do Inpe Demissão do Inpe Ricardo Galvão foi exonerado no início do mês, após uma crise com Bolsonaro.
O presidente questionou dados do Inpe após a divulgação de que o desmatamento na Amazônia Legal brasileira havia aumentado em junho, em relação ao mesmo mês do ano passado. “Na minha opinião, contudo, isso foi desculpa.
Desde janeiro, o ministro Ricardo Salles (do Meio Ambiente) vem dizendo que esse sistema não era suficiente.
Acredito que já havia o interesse de denegrir o trabalho do Inpe para encontrar um sistema do interesse deles.
Sabíamos que ia aumentar as queimadas e avisamos que o foco iria aumentar.
Então aquilo que o governo diz sobre ser pego de calças curtas é uma desculpa muito infantil”, afirmou Galvão ao JC.
Bolsonaro afirmou que os números seriam “mentirosos” e que o anúncio poderia prejudicar o Brasil em negociações comerciais com outros países.
Além disso, sugeriu que Galvão poderia estar “a serviço de alguma ONG”. “Quando o presidente me atacou daquela maneira muito forte e disse que os dados eram mentirosos, aquilo me afetou profundamente.
Existe um trabalho muito grande de toda comunidade científica.
Ao dizer que os dados eram mentirosos, ele estava atacando os cientistas que fizeram aqueles dados.
O presidente foi completamente tosco e não tinha dimensão do que estava falando, ou fez de propósito”, disse o ex-presidente do Inpe.
Para Galvão é “muito verossímil” que a chamada ideológica tenha influência sobre essa ligação feita entre ele e as ONGs. “Fui escolhido pelo governo passado, já era o Temer e ficaria quatro anos.
Mas o que deve ter incomodado o governo é que fui diretor de outra unidade do ministério no governo Lula (2002 – 2010).
Certamente eles ligavam ao governo Lula.
Mas não fui indicado por questões políticas.
Até respondi que nenhum diretor de unidade de pesquisa é indicado por questão política. É uma questão técnica e científica”.
Leia a entrevista completa no Jornal do Commercio