O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) rebateu, em nota, as declarações de Jair Bolsonaro (PSL) contra ele nesta segunda-feira (29).

Mais cedo, para atacá-lo, Bolsonaro afirmou que poderia contar sobre o desaparecimento do pai dele, durante a ditadura militar. “Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado.

Se o presidente sabe, por ‘vivência’, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais ‘desaparecidos’, nossas famílias querem saber”, afirmou Santa Cruz.

Felipe é filho de Fernando Santa Cruz, que foi desapareceu no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1974.

O atual presidente da OAB tinha dois anos.

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Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”, afirmou Felipe Santa Cruz na nota.

O vídeo em que Bolsonaro faz a declaração foi divulgado pelo G1. “Não é minha versão, é que a minha vivência me fez chegar a essas conclusões naquele momento.

O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, acusou. » Após troca de farpas com Bolsonaro, governadores lançam Consórcio Nordeste » Talvez Glenn pegue uma cana aqui no Brasil, diz Bolsonaro » Projeto de lei criminaliza apologia à ditadura militar » Bolsonaro nega ditadura e diz que comemoração do golpe de 64 será restrita a quartéis Fernando Santa Cruz nasceu em Olinda, em Pernambuco, e participou do movimento estudantil secundarista.

Ele foi preso temporariamente em 1967.

No Rio de Janeiro, para onde se mudou após a edição do AI-5, estudou direito e atuou no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Faculdade Federal Fluminense.

Em 1972, se mudou para São Paulo após ter sido aprovado em concurso público.

Quando desapareceu, ele estava na casa do irmão Marcelo e chegou a adverti-lo, segundo a Comissão da Verdade, de que se não aparecesse teria sido preso.

Em 2012, o delegado aposentado do DOPS Cláudio Guerra revelou em 2012 que Fernando Santa Cruz e outros presos tiveram seus corpos incinerados no forno de uma usina em Campos, no Rio. À Agência Brasil, um dos irmãos de Fernando, João Artur, afirmou que ele não era ligado à luta armada, mas integrava a Ação Popular Marxista-Lenista (AP).

Outro nome ligado ao grupo era o senador José Serra (PSDB-SP), por exemplo.

Adélio Bispo A declaração de Bolsonaro foi ao questionar a OAB sobre Adélio Bispo, o autor da facada que o atingiu durante a campanha presidencial do ano passado. “Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados?

Qual é a intenção da OAB?

Quem é essa OAB?”, perguntou.

O Estadão Verifica, do jornal O Estado de S.

Paulo, apontou que é falsa a informação de que o sigilo telefônico de Adélio Bispo é protegido pela Ordem dos Advogados. “A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente.

Garantia que é do cidadão, e não do advogado.

Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido.

Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas”, defendeu Felipe Santa Cruz. “O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar.

Temas que, aliás, sempre estiveram - e sempre estarão - sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil”, disse ainda. “Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios.

Goste ou não o presidente.” OAB Em nota, a diretoria do Conselho Federal da OAB, o Colégio de Presidentes da Ordem e o Conselho Pleno da OAB Nacional criticaram a declaração de Bolsonaro e afirmaram que: “1.

Todas as autoridades do País, inclusive o Senhor Presidente da República, devem obediência à Constituição Federal, que instituiu nosso país como Estado Democrático de Direito e tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos. 2.

O cargo de mandatário da Chefia do Poder Executivo exige que seja exercido com equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e sociais, bem assim contra o cumprimento das leis. 3.

Apresentamos nossa solidariedade a todas as famílias daqueles que foram mortos, torturados ou desaparecidos, ao longo de nossa história, especialmente durante o Golpe Militar de 1964, inclusive a família de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atingidos por manifestações excessivas e de frivolidade extrema do Senhor Presidente da República. 4.

A Ordem dos Advogados do Brasil, órgão máximo da advocacia brasileira, vai se manter firme no compromisso supremo de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, e os direitos humanos, bem assim a defesa da advocacia, especialmente, de seus direitos e prerrogativas, violados por autoridades que não conhecem as regras que garantem a existência de advogados e advogadas livres e independentes. 5.

A diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e contra a violação das prerrogativas profissionais.” OAB em Pernambuco O presidente da Ordem em Pernambuco também criticou Bolsonaro. “Ao atacar a memória de alguém e desprezar a dor de uma família sob a justificativa de estar insatisfeito com o desfecho judicial do caso Adélio Bispo dos Santos, o presidente abandona qualquer liturgia mínima do cargo que ocupa”, disse, pela assessoria de imprensa. “Lamento que se trate com desumanidade, desprezo e até com deboche um fato que marcou a vida política do país e por atingir o que existe de mais íntimo e precioso nos brasileiros, que é o sentimento familiar”.

Políticos Em nota, o governador de Paulo Câmara (PSB), também criticou Bolsonaro. “A divergência de ideias não deve, nunca, extrapolar os limites da civilidade e do respeito ao próximo.

Considero que o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi hoje violentamente agredido, por palavras que não são apenas grosseiras, são desumanas”, afirmou o socialista.

Outros políticos se manifestaram pelas redes sociais: Toda solidaridade ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ao amigo Marcelo Santa Cruz e a todos os parentes de desaparecidos na ditadura do Brasil, cujo sentimento a mesquinhez e irresponsabilidade do presidente avilta e desrespeita. — Luciana Santos (@lucianasantos) July 29, 2019 Essa é a criminosa declaração de @jairbolsonaro contra a @CFOAB e, especialmente, o seu presidente Felipe Santa Cruz, que teve a memória do pai covardemente atacada por esse facínora que usa, de forma indigna, a faixa presidencial.

Não ficará impune. pic.twitter.com/FRFCBIKe7s — Humberto Costa (@senadorhumberto) July 29, 2019 Bolsonaro é um cínico asqueroso.

Se sabe como Fernando Santa Cruz desapareceu, após ser preso pela ditadura, deve dizer ao Brasil.

Nós queremos saber. — Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) July 29, 2019 Vejo isso como uma ameaça do presidente da República ao presidente da OAB.

Grotesco! https://t.co/MRxWAMS66G — Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) July 29, 2019 Bolsonaro afirmou que sabe como desapareceu na ditadura o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, e que pode revelar o caso.

Ele está acobertando um crime que é sabedor e se torna cúmplice do assassinato de Fernando Santa Cruz.

Quebra o decoro do cargo e deve ser impedido. — Ivan Valente (@IvanValente) July 29, 2019 O presidente da República disse hoje que sabe como desapareceu o pai do presidente da OAB.

Confessou ser cúmplice de seu desaparecimento e morte em 1974.

Então exigimos que ele diga: como foi que Fernando Santa Cruz desapareceu?

Quem matou Fernando Santa Cruz, Bolsonaro? pic.twitter.com/GzjfMC4Pog — Sâmia Bomfim (@samiabomfim) July 29, 2019