Por José Paulo Cavalcanti Filho, em coluna desta sexta-feira (26) no Jornal do Commercio Homero Lacerda inventou de ser Senador.
Em 1990.
E quase foi mesmo.
Ocorre que a Lei Eleitoral daquele tempo exigia ter também, cada partido, candidato a Governador.
Complicado é que ele soube só no último dia do prazo.
E, por absoluta falta de tempo, acabou tendo que usar o único filiado próximo e disponível.
João Batista, vigia de uma das suas empresas – a HL, aqui no Recife, onde a reunião se dava.
Os eleitores não tiveram o prazer de ver seu nome, nas propagandas.
Por receio que algum jornalista o entrevistasse, Homero deportou o pobre homem para São Paulo.
Voltou só depois da eleição, a Pernambuco e à vidinha de sempre.
Tudo parecia indicar que não mais se falaria nele.
E assim se daria, não fosse a teimosia de Geraldo Freire.
Para quem Pernambuco tinha direito de ouvir a voz de quem quase foi seu governador.
Razão pela qual ofereceu uma bicicleta para quem conduzisse o candidato a uma entrevista.
Quase ninguém sabia quem era João Batista.
Mas seus vizinhos, sim.
E formou-se um tumulto, na porta, com todos querendo aquele prêmio.
João Batista acordou com o alvoroço.
Ao saber da oferta, vestiu-se apressado, pulou o muro por trás da casa e foi correndo até a Rádio Jornal.
Entrou esbaforido no estúdio e pronunciou palavras com as quais ficou famoso: “Bom dia, dotô Geraldo, eu sô João Batista.
E quem trouxe mim foi mim mesmo.
Agora, mim dê a bicicreta”.
Fugit irreparabile tempus, dizia Virgilio.
Na eleição seguinte, Homero acabou vereador do Recife.
E, até hoje, João Batista continua seu vigia.
Penso nesse caso ao ver o Presidente indicando um filho pra ser Embaixador.
Só que não são histórias iguais.
João Batista tinha direito à tal bicicleta.
Afinal, foi ele quem levou ele mesmo à rádio.
Enquanto o filho do homem nada fez para merecer tal honraria.
Diplomata é cidadão que vive como exilado, na terra dos outros; para, ao se aposentar, viver como exilado em sua própria terra. É minha definição para trabalho tão difícil.
Claro que ser Embaixador não é privilégio de diplomatas de carreira.
Só que precisa ter currículo, para cargo tão importante.
Ter história.
E o menino não tem.
Simples assim.
Não comentei antes, esse caso, admitindo que o Presidente logo compreenderia seu erro.
Mas era para valer, pena.
A cada fala ou decisão sem sentido que toma, como essa, uma crise.
Vai ser difícil.