Por José Paulo Cavalcanti Filho, em sua coluna do JC O cristão novo Ambrósio Fernandes Brandão, proprietário de terras em São Lourenço de Mata, é autor de Diálogos das Grandezas do Brasil (1618).
Para José Honório Rodrigues (História da História do Brasil), “a descrição mais viva… dos moradores do Brasil, gentios, reinóis, mazombos e negros”.
Os diálogos se dão entre dois amigos.
Um, Alviano, quase “um herege das coisas do Brasil”.
O outro, Brandônio, pregoeiro português que veio dar nessas terras.
Diz Alviano: “Vejo que, posto que tudo lhe sobeja pela fertilidade do seu terreno, vem a padecer muitas faltas, das quais me alembra haverdes atribuído a culpa à negligência comum e pouca indústria dos seus povoadores.
Comparo isso ao dos bugios [indivíduos que imitam os outros] que me contastes, que metiam a mão pela boca da botija vazia e depois não podiam tirar, e por não saberem largar o que apanharam, se deixavam cativar”.
Brandônio responde: “Este gentio [PAGÃOS]não tem rei a que obedeça, somente elegem alguns principais, aos quais reconhecem alguma superioridade.
Já vos disse que não careciam de bons entendimentos, posto que estão tão cegos com estes feiticeiros (que o não são nem nada), que se não acabam de desenganar de sua falsidade e mentira”.
Passados 400 anos e esse estigma continua colado em nossa pele.
E não se trata, mais, só de pequenos furtos.
De por “a mão na botija”.
Há também os que ficam “cegos com estes feiticeiros”.
Palavras de Ambrósio.
O Mensalão e a Lava Jato, com seus feiticeiros, são amostra, hoje, de promiscuidade bem mais sofisticada.
Entre uma elite política carcomida e envelhecida, em conluio com grandes corporações econômicas.
Até quando?
Lembro Pessoa de Moraes, autor de livros como Sociologia da Revolução Brasileira (1965) e Tradição, Transformação no Brasil (1968).
Era sociólogo e professor da UFPE.
Grande figura.
Talvez apenas um pouco excêntrico demais, é justo dizer.
Dando-se que, ao encerrar programa que tinha na TVU, dirigiu-se para a câmara, dedo em riste, e sentenciou com voz embargada: “O Brasil precisa de Pessoa de Moraes”.
Dia seguinte, não resisti e lhe passei telegrama (naquele tempo não havia internet): “Escusas, amigo, mas o Brasil precisa mesmo é de pessoas de moral”.
Saudades de um novo tempo em que, aproveitando título de Manifesto de outro Pessoa, o Fernando, as pessoas se acostumem a se indignar Por Causa da Moral.