Em entrevista nesta quarta-feira, diante do fato consumado, o governador Paulo Câmara analisou o cenário da reforma da Previdência.
O governador Paulo Câmara externou sua preocupação em relação aos possíveis impactos negativos da proposta junto à parcela mais pobre dos brasileiros.
O chefe do Executivo estadual disse que a matéria, atualmente na Comissão Especial, é bem diferente daquela que foi enviada, em fevereiro, pelo Governo Federal.
De acordo com o socialista, após pressão social e pressão dos governadores, especialmente os governadores do Nordeste, pontos tidos antes como “inegociáveis” foram retirados pelo relator, do PSDB de São Paulo.
O argumento de Paulo Câmara é que o debate em torno da reforma tem ocorrido como se ela fosse a única saída para equilibrar as contas públicas.
O texto da reforma dever ser enviado ao plenário da Câmara dos Deputados ainda este mês de agosto.
Veja as declarações do governador na íntegra, abaixo “Importante ter a oportunidade de esclarecer a todos os pernambucanos nossa posição em relação à reforma da Previdência, cuja tramitação ocorre no Congresso Nacional.
Temos muitas preocupações sobre esse tema, diante do que vimos acontecer.
Uma proposta que foi originalmente apresentada de maneira insatisfatória, e que precisa ser muito bem trabalhada.
Após a retirada de alguns pontos fundamentais, muita coisa precisa ainda ser discutida.
Essa discussão tem um ponto inicial que precisa ficar muito claro: o documento que foi entregue e apresentado esta semana é muito diferente do proposto pelo presidente da República em 20 de fevereiro.
Na proposta inicial, havia muitas questões difíceis de serem aceitas.
Alguns absurdos, inclusive, como oferecer R$ 400 para idosos que não conseguem o tempo mínimo de contribuição via BPC – Benefício de Prestação Continuada.
O próprio texto original tinha a exigência de 20 anos de contribuição para a aposentadoria rural, ou seja, justamente as pessoas que começam a trabalhar mais cedo e em condições mais adversas.
Isso condenava muitos dos trabalhadores rurais a nunca se aposentarem.
Já tinha uma parcela significativa desses profissionais aqui - e Pernambuco é um exemplo disso - que são safristas, ou seja, recolhem o INSS apenas 6 meses no período da safra.
Com a exigência de 20 anos, na prática, seriam necessários mais de 40 anos para estarem aptos a uma aposentadoria.
São essas as pessoas que mais precisam de uma aposentadoria e da garantia de uma velhice saudável.
Eu trouxe dois exemplos aqui de como esse texto atingia diretamente os mais necessitados, uma fatia enorme de trabalhadores pernambucanos, nordestinos, idosos, muito pobres, e tivemos a oportunidade de discutir essa reforma de maneira responsável.
Ela nunca será a salvação deste País, mas a gente tem que discutir, e sempre me coloquei de maneira responsável, firme, ao tratar dela.
Neste primeiro momento, fui contra, porque o texto estava claramente contrário aos direitos do mais pobres, e nunca vou abrir mão desses pontos: o BPC que eu falei, a aposentadoria rural, a retirada da capitalização, que é um registro que faz com que as pessoas se aposentem sem condição de dignidade, a gente não podia aceitar.
Também não podemos aceitar que se tire a Previdência da Constituição. É um direito fundamental e tem que estar prevista na Constituição.
Não pode ser alterada todo ano através de lei complementar ou ordinária.
São temas inegociáveis.
E houve, por parte do Congresso, através da pressão que muitos dos governadores, principalmente do Nordeste, fizeram, a intenção de retirar esses pontos.
Com a retirada, chegou a hora de discutir com mais profundidade o texto.
Enquanto a reforma ainda se baseia numa suposta economia, sacrificando o pobre e os trabalhadores do regime geral que ganham menos, a gente vai continuar trabalhando para que ela avance sem prejudicar essas pessoas.
A gente espera ter um texto que acabe com privilégios.
Ninguém é a favor de privilégios, e que assegure os direitos dos que mais precisam e aponte novas formas de financiamento para os Estados e municípios.
Retirá-los da reforma não é uma solução que vai ajudar o Brasil.
Pelo contrário, vai criar um sistema deliberativo mais complicado e eu quero, como governador de Pernambuco, ter a oportunidade de debater esse tema com transparência, responsabilidade, sem me omitir de maneira nenhuma, mas não concordando com absurdos nem com sacrifícios para a população mais pobre, que mais precisa.
Ainda há tempo.
Nossa discussão e as reuniões do fórum dos governadores do Nordeste, do fórum dos governadores do Brasil, são justamente para que os Estados tenham condições de discutir com seriedade a Previdência que queremos, que garanta os direitos dos mais pobres mas, ao mesmo tempo, com a responsabilidade de saber que esse tema precisa ser debatido com muita responsabilidade, diálogo e transparência.
Quero garantir que, aqui em Pernambuco, o nosso debate sobre questões que atinjam a população mais pobre sempre será feito com transparência, verdade e, acima de tudo, buscando melhorar as condições de vida das pessoas e nunca piorar, nunca tirar direitos.”