A deputada do PT Marília Arraes anunciou, nesta terça, que a partir desta edição inicia uma coluna mensal (nas versões digital e em papel) em parceria com a revista Carta Capital. “Será uma oportunidade incrível para debatermos os principais temas da política nacional”.

O primeiro tetxo é sobre Lula, coincidentemente no mesmo dia em que o STJ julga o caso contra Moro. “Tentaram descredenciar quem alertava que a Lava Jato cometia excessos.

Agora, eles estão vindo à tona” Marília Arraes, em artigo em revista nacional Durante os últimos cinco anos, a Operação Lava Jato, sob a coordenação do ex-juiz e hoje ministro da Justiça Sérgio Moro, escorou-se em vazamentos e relacionamentos com jornalistas para pressionar a opinião pública.

Durante esse período, Moro construiu uma imagem de “paladino da ética e da moralidade”, praticamente um “super-herói” no combate à corrupção.

Funcionou.

E a operação passou incólume, alvo de poucas críticas, enquanto abastecia a mídia com manchetes diárias, com o bônus de garantir passe livre para cometer ilegalidades em nome do combate a ilegalidades.

Não faltaram alertas sobre o que de fato acontecia sob o manto da Lava Jato.

Os argumentos para descredenciar esses alertas eram os mais diversos: “Quem é contra a Lava Jato é contra o País e a favor da corrupção”. “Quem não está com Moro é porque tem algo a temer…” Hoje, diante dos vazamentos de conversas entre o ex-juiz e outros integrantes da Lava Jato, publicados pelo site The Intercept, fica claro o que denunciávamos: Moro comandou uma ardilosa conspiração para eleger o atual presidente, Jair Bolsonaro, encarcerando Lula – que venceria a eleição de 2018, se não fosse impedido de concorrer.

Ele tinha, e tem, uma motivação política e pessoal contra Lula.

Bolsonaro aproveitou-se disso, sabendo exatamente o preço que teria de pagar.

Aceitou e foi eleito presidente.

A máscara de Moro caiu.

E caiu em função de sua empáfia e de sua certeza de que não era mais apenas um “humano qualquer”.

O mínimo de prudência teria recomendado que o juiz se concentrasse em Curitiba, coberto de glória e endeusado por um bom número de brasileiros.

Mas sua agenda política não se esgotava na Lava Jato e ele não hesitou em dar o passo fatal, aceitar ser ministro da Justiça.

Para quem o acompanhava, sem se deixar abalar pela espetacularização que dava aos próprios atos, Moro tinha mostrado a sua verdadeira face quando, igualmente por motivação política, resolveu “vazar” uma escuta telefônica ilegal entre a então presidenta Dilma Rousseff e Lula.

Quando um juiz de primeira instância não só ordena ilegalmente uma escuta à própria presidenta da República para depois sorrateiramente divulgá-la na mídia, fica claro que estamos perante um homem sem limites e com valores incompatíveis com uma função tão nobre quanto a magistratura.

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado Moro mostrou que se achava acima da lei.

Pior ainda, que podia usar os poderes como bem entendesse.

Pior do que um mau juiz é um juiz-justiceiro, que acredita em sua superioridade moral sobre os demais e julga que o direito está a seu serviço.

Em nome de seus interesses, o “superjuiz” condenou um homem com mais de 70 anos, um ex-presidente da República, um militante histórico das causas sociais.

E sem ter contra ele uma só prova direta da acusação: uma escuta, uma escritura, um contrato, um testemunho independente que confirmassem que Lula era, de fato, o dono ou, ao menos, usuário do célebre triplex.

Não havia provas e, hoje está explícito, Moro e o procurador Deltan Dallagnol nem sequer tinham convicção.

Depois de dezenas de episódios de desgastes (como esquecer do Queiroz?

E de Bebianno?

E as ligações da família de Bolsonaro com milicianos, entre os quais estão os possíveis assassinos da vereadora Marielle Franco?) esta é, sem dúvida, a principal crise vivida pelo governo.

No centro do furacão está o superministro, a quem Bolsonaro havia prometido (e anunciado aos quatro ventos) uma indicação ao STF e não escondia de ninguém as pretensões de disputar a Presidência da República em 2022.

Sem ter completado seis meses, a administração Bolsonaro envelhece um ano por dia.

Qualquer um com o mínimo de bom senso, tendo ou não votado neste (des)governo, enxergou que, em vez da tão apregoada “nova política”, o que de fato se instalou no Palácio do Planalto foi o oposto: velhas, espúrias e empoeiradas práticas, vestidas em novos figurinos, mas igualmente obscuras e perniciosas.

Muitas cartas ainda serão colocadas à mesa pelo governo na tentativa desesperada de salvar Moro e, com ele, o discurso de “moralidade” de Bolsonaro.

Um dos primeiros “atos” ocorreu na quarta-feira 19, quando o “superministro” compareceu à Comissão de Constituição e Justiça do Senado numa estratégia para tentar evitar a instalação de uma CPI para investigar o conteúdo revelado pelos vazamentos feitos pelo The Intercept.

Aconteça o que acontecer, há uma certeza: Moro jamais foi um juiz independente e imparcial.

E agora está soterrado em um mar de lama que nenhuma Lava Jato é capaz de limpar.

Lula, mesmo na prisão, é muito mais livre do que ele.