Por José Paulo Cavalcanti Filh, em sua coluna no Jornal do Commercio nessa sexta-feira (7) Os estados utilizaram, entre 2001 e 2018, apenas 49,4% dos recursos federais (FUNPEN) disponíveis para construir penitenciárias.

Enquanto presos continuam se amontoando, uns sobre os outros, como se fossem bichos.

Ou lixo.

Em Pernambuco, só um exemplo, a Barreto Campelo, com 400 vagas, hospeda mais de 1.700 almas penadas.

Culpa da burocracia.

Um pecado que nem é recente.

Ministério da Justiça, 1985. “Sinto o tempo como uma dor enorme”, escreveu Pessoa (no Desassossego).

Quis saber por que os financiamentos da Caixa Econômica, para construir presídios, não conseguiam ser assinados.

O DEPEN descobriu serem necessários 68 carimbos, antes de aprovar cada projeto.

Comentei esse estudo com o Embaixador do Japão, que me visitava.

Ele disse que, no seu país, eram necessários apenas três.

Primeiro, é um bom projeto?

Segundo, o preço está certo?

Terceiro, há demanda social para ele?

Tentei imaginar um quarto que fosse necessário e não consegui.

Três carimbos, no Japão.

E 68, no Brasil.

Fui ao Presidente da Caixa e relatei o diálogo.

Prometeu resolver.

Um mês depois, me procurou.

A cultura da instituição não aceitava grandes simplificações.

Resumindo, permaneceram 25.

E a via crucis continuou, apenas um pouquinho menor.

Anos depois, em reunião do CNPQ (Silvio Meira é testemunha), uma diretoria do Ministério da Ciência e Tecnologia pedia para triplicar o número de funcionários, sob pena de retardar o exame dos projetos.

Lembrei daquela história e perguntei quantos carimbos eles exigiam, por processo.

A resposta foi 24.

Sugeri, então, escolher apenas oito questões.

As mais importantes.

Não seria preciso contratar ninguém.

E a velocidade, no exame dos casos, aumentaria.

Palavras ao vento.

Que nem o presidente do órgão, nem seus funcionários, admitiram sequer discutir o assunto.

Difícil de acreditar. É preciso repensar a gestão pública no Brasil.

A própria forma de administrar nossos recursos.

O que não tem a ver diretamente com ideologias.

Só que isso esbarra no descompromisso endêmico das corporações para com o indeterminado cidadão comum.

Numa cultura cartorial que vem desde a colonização.

Está no sangue.

Talvez a máquina estatal seja mesmo invencível.

Como o Leviatã de Hobbes, evocando o terrível monstro marinho da Bíblia.

Ou quem sabe não. É hora de tirar a prova.

Se esse governo tiver disposição para tanto.

Vamos rezar.