Por Terezinha Nunes, em artigo enviado ao blog No filme O Grande Ditador, sua obra prima, estreado em 1940 em plena Segunda Guerra Mundial, o cineasta Charles Chaplin pôs uma cena considerada antológica: nela, o personagem Carlitos, representando o ditador alemão Adolf Hitler, responsável pela execução de milhões de judeus, dança em sua sala de trabalho com uma enorme bola representando o globo terrestre, como se nada estivesse acontecendo.

O presidente Jair Bolsonaro não é ditador.

Não passa pela cabeça de ninguém, nem mesmo dos seus maiores adversários, que tenha intenção de provocar barbaridades no país, mas não há como não lembrar a cena de Carlitos ao ver o presidente lépido e fagueiro, atirando para todos os lados, inclusive nos pés do seu próprio governo, enquanto ministros como Paulo Guedes e Sérgio Moro enfrentam, de forma destemida, os debates no Congresso, buscando aprovar as reformas.

Como se diz no interior nordestino, Bolsonaro está, desde que assumiu o posto, comportando-se como “um macaco em casa de louça”, aquele que não consegue se movimentar em um ambiente delicado no trato, como é a política, sem quebrar muitas peças e espalhar seus cacos para todos os lados.

Como se estivesse brincando com o globo de Carlitos, o presidente sai pelas redes sociais e até nas entrevistas dadas à grande imprensa, que diz desprezar, soltando torpedos, adiantando soluções que ainda não foram formuladas e assinando decretos que mexem com assuntos polêmicos, como o porte de armas, como se estivesse numa casa de brinquedos e não em um país em crise e à beira de um ataque de nervos.

Não se sabe se o presidente faz isso de caso pensado, se erra por desconhecimento de causa ou se está mesmo se divertindo em meio à radicalização vivida no país, após uma eleição em que a polarização esquerda/direita colocou para trás o bom senso e nos deixou todos a ver navios.

Seja qual for a explicação a situação é preocupante e mesmo vexatória.

Esta semana passamos de todos os limites.

O ministro Paulo Guedes, que vinha conseguindo manter uma certa sobriedade, falou que estamos caindo em um “buraco negro fiscal” e mostrou preocupação com a capacidade de retomada do crescimento do país enquanto a estimativa sobre o crescimento do PIB para este ano caia para 1,5% ( já foi de 2,7%) após um primeiro trimestre de crescimento negativo.

Onde estava o presidente?

Nos Estados Unidos recebendo uma comenda que lhe trouxe mais dissabores do que reconhecimento e atacando os estudantes em protesto pelo contingenciamento de recursos das universidades quando as manifestações se devem aos erros de comunicação da própria equipe governamental.

Contingenciamento existe há décadas e isso nunca foi motivo para preocupação.

Agora o próprio governo disse que eram cortes e ele mesmo anunciou que seria de 30% para depois explicar que não passa de 14%.

Na verdade, enquanto Guedes, Moro e os militares buscam com afinco alguma normalidade para que as reformas sejam aprovadas e possamos enfim respirar, os ministros da ala bolsonarista quebram mais louças e espalham mais cacos que o presidente.

Torcemos para que a luz do fim do túnel apareça sob pena de o globo de Carlitos acabar caindo em nossa cabeça.