Por Pedro Josephi, advogado e vice-presidente da Fundação Leonel Brizola em Pernambuco Após o ex-ministro Ciro Gomes, vice-presidente nacional do PDT, afirmar que fora enganado pelo governador Paulo Câmara nas articulações para a campanha presidencial de 2018, o chefe do executivo estadual e vice-presidente nacional do PSB afirmou em nota que Ciro “não aceita a derrota eleitoral”.

Inquieto que sou, acho por bem, trazer alguns elementos para esta discussão.

Primeiramente, nós do PDT aceitamos sim a derrota eleitoral não só nossa, mas do campo político progressista, tanto é que o próprio Ciro Gomes estabeleceu um prazo de 100 dias para poder rodar o país discutindo e criticando a evidente paralisia e balbúrdia (aproveitando o termo do Ministro da Educação) do governo Bolsonaro.

No entanto, aceitar a derrota não significa “naturalizar” ou acomodar-se com a complexa realidade que levou à presidência uma figura desprovida de atributos mínimos para o cargo.

Isto posto, na Câmara Federal, o PDT fez todos os esforços para consolidar um bloco, inclusive, com o PSB, para fortalecer uma oposição propositiva, responsável e atenta a mensagem que o povo nos deu nas eleições presidenciais de 2018.

Acontece que não naturalizar esta derrota nos impõe um exercício de profunda reflexão, análise e humildade, inclusive, para perceber que a derrota não se deu por e em 2018.

Pelo contrário, a derrota política, que se expressou eleitoralmente ano passado, começou com o apoio do PSB, a partir do núcleo duro de Pernambuco, ao PSDB de Aécio Neves na disputa presidencial de 2014 no segundo turno.

A derrota eleitoral de 2018, que não queremos naturalizar, passa também, sobretudo, pela ruptura institucional ocasionada pelo impeachment da ex-presidenta Dilma.

Como Ciro Gomes sempre diz “remédio para governo ruim não é golpe”, e sim povo mobilizado para escolher o seu futuro.

Todavia, parece que Paulo Câmara esquece do seu papel fundamental no impeachment de Dilma, pois além da bancada federal do PSB ter dado os votos necessários pelo impedimento, o governador liberou os seus secretários estaduais, que eram deputados, para votarem a favor da saída da presidenta democraticamente eleita.

Ruptura esta que prejudicou os interesses de Pernambuco, haja vista a falta de verbas e investimentos do governo federal no estado, como diversas vezes o próprio Paulo Câmara publicizou.

O governador, na nota, justifica ainda a manobra e o drible em Ciro por ter o PSB a prioridade na eleição estadual de Pernambuco, sufocando a então candidatura de Marília Arraes que despontava nas pesquisas e nas ruas.

Ora, sacrificou-se uma articulação nacional que poderia ter freado os ímpetos conservadores e reacionários que hoje estão em volta da presidência da República por um projeto de manutenção e reprodução de poder no estado, afinal de contas já são 12 anos de PSB à frente de Pernambuco, com seus méritos e deméritos, saliento.

Portanto, quando o governador Paulo Câmara diz que Ciro não aceita a derrota eleitoral não nos incomoda, preferimos a inquietude e a humildade necessária para as reflexões do que a conformidade e ausência de autocrítica de quem foi decisivo para a conjuntura que levou Bolsonaro ao poder.