Por Sérgio Buarque, no JC deste sábado O Brasil vive uma polarização política radical entre duas correntes ideológicas, cada uma delas com os seus mitos, que está imobilizando o País: o lulismo e o bolsonarismo, com seus seguidores fanáticos numa guerra quase religiosa.
Com seus graves problemas econômicos, sociais e institucionais, o Brasil fica espremido entre as duas seitas, sofrendo as consequências da paralisia política que leva à recessão e ao desmonte do Estado, ou segue refém dos oportunistas e fisiológicos do “Centrão”.
Lulistas e bolsonaristas cometem o mesmo erro de análise política: pensar que todos os eleitores de Bolsonaro são bolsonaristas e, portanto, autorizam os demandos e o ódio direitistas do seu governo; e os que votaram em Haddad são petistas e, por isso, rejeitam, em princípio e em bloco, qualquer iniciativa do governo.
Na verdade, grande parte dos brasileiros votou contra os dois, tapando o nariz, votou num pela recusa ao outro.
E tudo indica que predomina ainda entre os brasileiros a desconfiança em relação aos dois lados desta polarização, mais ainda, depois do desastre desses cinco meses do governo Bolsonaro.
A maioria dos brasileiros é contra as medidas reacionárias e iresponsáveis do governo na educação, na política externa e nos direitos civis, e rejeita qualquer aventura golpista do presidente-capitão.
Mas compreende a necessidade urgente da reforma da Previdência proposta pelo governo, que o PT combate por pura irresponsabilidade populista.
Como não entenderam o Brasil e o perfil político dos brasileiros, lulistas e bolsonaristas tendem a se isolar com suas bandeiras e suas intolerâncias, falando e agindo para seus seguidores e se alimentando do ódio dos inimigos.
Impotentes e perplexos, os brasileiros vêm o barco afundando no meio desta arenga execrável que, de um lado, impede a reestruturação do Estado e, de outro, avança no desmantelamento dos valores culturais e dos princípios e conquistas da humanidade?
Infelizmente esta maioria difusa - nem lulista nem bolsonarista - está órfã e carente de lideranças que, se diferenciando das duas seitas, apontem uma direção consistente de mudança e desenvolvimento do Brasil, promovendo a reestruturação do Estado e impedindo as agressões anti-iluministas e autoritárias de Bolsonaro.
O Brasil não pode continuar imobilizado por esta disputa fanática de minorias organizadas e mobilizadas em torno de mitos, fantasias e mentiras.
Sérgio Buarque é economista