O reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Anísio Brasileiro, criticou os cortes nos orçamentos das universidades e defendeu a política de cotas, a gratuidade dessas instituições e os cursos de ciências humanas em entrevista ao cientista político Antonio Lavareda.
A conversa foi exibida no programa 20 Minutos que foi ao ar neste sábado (18) na TV Jornal e será reprisado neste domingo (19), na Rádio Jornal, às 11h40.
Com o bloqueio de recursos feito pelo Ministério da Educação, foram contingenciados na UFPE, que é a maior universidade federal do Estado, cerca de R$ 56 milhões.
O reitor explicou que, desse valor, R$ 50 milhões seriam para o custeio, ou seja, para pagar despesas como contas de água e luz e a limpeza da instituição.
Os outros R$ 6 milhões já haviam sido cortados antes e seriam de capital, o que é referente a investimentos em infraestrutura, equipamentos e laboratórios.
Hoje, segundo ele, a UFPE tem aproximadamente 30 mil alunos em 105 cursos de graduação e cerca de 10 mil em 90 programas de pós.
São 2,8 mil professores e 4 mil técnicos, ainda de acordo com Brasileiro. “Com um número de aposentadorias muito grande”, enfatizou.
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Temos uma equipe que tem sabido, com os recursos que chegam da União, gerir a universidade.
Nós não devemos nada, temos todas as contas em dia.
Temos, com base nessa capacidade instalada, buscar outras fontes de financiamento, seja na iniciativa publica ou na privada”.
Apesar de defender a possibilidade de fechar parcerias e buscar novas fontes de recursos para a universidade, Anísio Brasileiro frisa que, para ele, a base deve ser do Estado. “O essencial tem que vir do poder público”, disse.
Além disso, é contra a cobrança de mensalidades nas universidades. “Esse é um debate que deve ser feito na sociedade.
Eu, pessoalmente, não concordo”, disse.
Questionado, saiu em defesa da política de cotas. “O sistema de cotas veio para corrigir uma imensa desigualdade que há ainda nosso País, que é extremamente injusto e desigual.
Os estudantes que jamais teriam acesso a uma universidade pública, porque ela é de mérito no sentido do nível de exigência para ingressar e se manter, só puderam entrar pelas cotas.
Temos exemplos que emocionam a todos”, afirmou.
Com a Lei de Cotas, de 2012, metade das vagas passou a ser reservada de acordo com renda familiar, cor e raça e deficiência.
Brasileiro reivindicou ainda uma política de assistência estudantil pelo Ministério da Educação. » Bloqueio das universidades federais chega a R$ 2,2 bilhões » Rede entra com ação no STF contra cortes em universidades federais » OAB-PE critica cortes em universidades e diz que não descarta ir à Justiça » Reitores de universidades se reúnem na UFPE contra cortes do MEC » Deputado critica cortes. ‘Em universidades não se mexe’, afirma O reitor da UFPE e outros representantes das universidades públicas pernambucanas têm se articulado com deputados e senadores, principalmente os de oposição ao governo Jair Bolsonaro (PSL), para tentar reverter os cortes. “Entendemos que a universidade é vital para o progresso da humanidade, para um projeto de desenvolvimento que seja inclusivo, busque reduzir as desigualdades e possibilite através do conhecimento que os jovens possam ter acesso ao mundo do trabalho com a competência que a sociedade digital exige”.
Contrariando o governo federal, ainda defendeu as ciências humanas. “Um país só tem sentido existir se ele se pergunta sobre a sua origem, sobre a sua história, de onde ele veio e para onde vai.
Nos interrogarmos sobre os grandes dilemas é uma tarefa das humanidades e elas são indispensáveis”.