Por Milton Coelho, secretário-chefe do gabinete do governador Paulo Câmara (PSB), na página de opinião do JC É inquietante rememorar a trajetória de Miguel Arraes, o que faço agora por imperativo do tempo em que estamos vivendo, como contraponto a um cenário no qual sobram motivos para descrer e deplorar.
Lembrar Arraes, porém, não pode significar mera visita a lugar de afeto na memória.
Com incomum capacidade, conjugou o binômio pensamento e ação, teoria e prática, conhecimento científico e compromisso com a luta dos oprimidos.
E nós, contemporâneos, o que devemos fazer?
A meu ver, rememorar Arraes não como uma fotografia na parede, mas como um estímulo para a luta.
Ler sua biografia como se lê um manual de ação.
Em face da comédia pastelão ora encenada no País, Arraes procuraria denunciar o escandaloso entreguismo que vem desmontando, pedra a pedra, tudo o que o povo brasileiro construiu com sacrifício para ter autodeterminação numa cena global dominada por diversos imperialismos.
Quando morreu, em agosto de 2005, aos 89 anos, conduzia, em parceria com cientistas cubanos, uma experiência destinada a revolucionar a produção de açúcar e, consequentemente, a estrutura da zona da mata.
A ideia era desenvolver uma tecnologia que reduzisse o tamanho das unidades industriais e o custo de implantação para que tivéssemos dúzias de fábricas menores distribuídas pelo território, fortalecendo atividade econômica e viabilizando a formação de uma classe média rural.
Que alternativas se pode contrapor à grande vaga neoliberal rentista, que só raciocina pela lógica do sistema financeiro?
Perguntemos a Miguel Arraes.
Ele próprio escreveu dez a doze livros, pronunciou dezenas de discursos, fez palestras e escreveu artigos em jornais.
Busquemos nestes textos as linhas mestras de perspectivas projetadas no futuro, É assim que devemos honrar sua memória.