Por Vítor Diniz - Mestre em Ciência Política (USP) Em pouco menos de duas horas de entrevista, o ex-presidente Lula demonstrou todo o seu conhecimento sobre o Brasil.
O petista fez questão de se mostrar atualizado sobre os temas em alta na sociedade, misturando anedotas e assuntos pessoais com críticas diretas ao governo Bolsonaro e, em especial, ao Ministro da Fazenda, Paulo Guedes.
De alcance limitado, mesmo com toda expectativa gerada na imprensa, poucas pessoas chegaram a assistir à íntegra da entrevista, a maioria se informou através de trechos selecionados, o que acaba escondendo várias nuances da fala do ex-presidente.
Lula, com toda sua habilidade política, percebeu o possível impacto eleitoral da Reforma da Previdência.
Dedicou atenção especial às críticas à reforma de Bolsonaro e Paulo Guedes, inclusive chegando a questionar a necessidade de qualquer tipo de reforma, contrariando visões mais pragmáticas de alguns de seus companheiros petistas, em especial os governadores.
Em nenhum momento Lula fala em ajuste, em diminuição da máquina pública.
Ao contrário, o discurso usa as palavras crescimento, estímulo, crédito, consumo, criando uma conexão direta com o período de bonança vivido pelo Brasil.
A entrevista não trouxe grandes novidades.
Não houve uma mudança clara de estratégia, não há uma proposta clara para o futuro.
O que se viu foi uma aposta no passado, na memória das pessoas.
O próprio ex-presidente reconhece que a sociedade mudou e os desafios são maiores: os políticos saíram muito machucados pela Lava Jato e são cobrados diariamente pela crise econômica que ainda persiste.
Ainda que tenha baseado suas respostas no passado, Lula falhou ao explicar ou ao menos justificar o fracasso econômico do governo Dilma.
Quando perguntado sobre corrupção e os erros do PT, Lula demonstrou uma fraqueza surpreendente, repetindo bordões já condenados ao insucesso.
Um recado muito claro passado na entrevista é o do caráter hegemônico do PT.
O ex-presidente fez questão de deslegitimar os atuais líderes de partidos de esquerda e não demonstrou interesse em mudar os rumos do partido.
Pelo que foi dito na entrevista, Lula parece disposto a continuar pregando apenas para convertidos.