Por Luciano Siqueira, em artigo especial para o blog Em qualquer agrupamento humano contradições e conflitos são naturais.

No seio de um governo, idem.

Mas o que ocorre no governo Bolsonaro beira o ridículo e a irresponsabilidade.

Os ataques ao que se tem chamado de “ala militar” do governo (8 ministros são generais e o vice-presidente, idem), desferidos pelo autodenominado grupo “ideológico” (no qual despontam o astrólogo Olavo de Carvalho e os filhos do presidente) parecem girar em torno do controle de maior ou menor fatia da administração.

Se há divergências de caráter programático ou estratégico (é possível que sim), não vieram à tona.

O que se expõe são impropérios mirando, sobretudo, o vice-presidente general Hamilton Mourão.

Na última rodada de ataques, deflagrada por um dos filhos do presidente, que divulgou uma fala em vídeo do tal astrólogo, palmilhada de bizarrices contra as Forças Armadas, fica patente a falta de qualquer limite de sanidade da parte de ambos – do astrólogo-guru e do filho vereador encarregado de administrar as postagens de Bolsonaro nas redes sociais.

Na polêmica postagem, que permaneceu por mais de doze horas até se retirada, dizem, por ordem do próprio presidente, o astrólogo dizia que as Forças Armadas só fizeram “cagada” e que o presidente está cercado “de filhos da puta”.

O presidente emitiu uma nota tímida na qual reconhece que seu guru se excedeu nas palavras, mas não deixou de reconhecer o “patriotismo” do dito cujo.

Enquanto isso o País segue em penosa crise econômico-financeira, social, política e institucional.

E o que se espera, há quatro meses desde a posse, é a apresentação de rumos claros por parte do governo.

Mas o que se tem é uma sequência interminável de arengas, mediante as quais já caíram ministros e uma boa leva de ocupantes de cargos ministeriais de segundo escalão.

Tudo leva à afirmação da máxima de que em governo sem eira nem beira, todos brigam e ninguém tem noção.

A chamada equipe econômica sabe o que quer, movimenta-se o quanto pode para cumprir a agenda ultraliberal ditada pelo sistema rentista.

Mas tem esbarrado tanto em impasses administrativos acentuados pelos conflitos internos, como pela absoluta incapacidade política do presidente e seus auxiliares mais próximos em construir uma base de apoio parlamentar que lhe dê sustentação no Congresso.

A equipe encarregada dessa tarefa parece sofrer agora uma remodelação, segundo se noticia, a custa de muito empurrão e bate-boca no Planalto.

O mercado, principal interessado que o governo funcione, tem emitido apelos sucessivos no sentido de que o presidente se dê conta das suas obrigações de chefe de Estado.

Em vão. Às oposições não cabe assistir as coisas à distância.

Cabe seguir esclarecendo a população e cuidando de convergirem em torno de uma plataforma comum de resistência em defesa da democracia e da nação.