Na esteira do processo do STF contra fake news, os magistrados nacionais também reclamaram publicamente do jovem procurador da Lava Jato.
A guerra de poder na Justiça Federal é agora declarada. “A Associação Nacional desembargadores (ANDES), vem de público repudiar de forma veemente as declarações do Procurador Federal Deltan Dallagnol, o qual, de forma desrespeitosa e acintosa, manifestou através da imprensa falada e escrita que os Ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski estão sempre formando uma panelinha, nos julgamentos envolvendo os casos a Operação lava jato”, escreveu o desembargador Bartolomeu Bueno, presidente da entidade. “No ensejo, a Associação Nacional de Desembargadores espera que o Conselho Nacional do Ministério Público tome todas as providências cabíveis no sentido de investigar, processar e punir o aludido Procurador Federal pelas suas faltas disciplinares e a Corregedoria Geral do Ministério Público Federal adote o mesmo procedimento”.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Agência Brasil – O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) instaurou, por maioria de votos, processo administrativo disciplinar contra o procurador da República no Paraná Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato.
O órgão máximo do Ministério Público vai apurar se Dallagnol feriu o decoro ao declarar em entrevista à Rádio CBN que três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) “mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”.
Em entrevista em 15 de agosto do ano passado, Dellagnol criticou a decisão dos ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandoswki, então da 2ª Turma do STF por terem determinado que trechos de depoimentos de acordo de colaboração premiada de ex-diretores da Odebrecht, que estavam sob a competência da Justiça Federal de Curitiba (PR), fossem remetidos para a Justiça Eleitoral e para a Justiça Federal no Distrito Federal.
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Objetivamente, Milton, eu não estou dizendo que estão mal-intencionados nem nada, estou dizendo que objetivamente a mensagem que as decisões mandam é de leniência.” disse o procurador na ocasião.
A decisão dessa terça-feira (23) do Plenário do CNMP referenda liminar, de setembro do ano passado, do corregedor nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel, após demanda do presidente do STF, ministro Dias Tofolli.
O prazo de conclusão do processo é de 90 dias.
Procurada pela Agência Brasil, por e-mail, a assessoria do procurador Dellagnol encaminhou resposta apresentada ao CNMP em outubro de 2018, também acessível pelo Twitter.
Na rede social, ele disse o conselho abriu contra ele o primeiro processo disciplinar em 13 anos de atuação.
E acrescentou que o Conselho Superior do MPF analisou o mesmo caso e entendeu que não houve falta disciplinar.
Dellagnol afirmou que a declaração à rádio “foi crítica de autoridade pública, contra decisões de autoridades públicas, em matéria de interesse público”.
O procurador também assinalou que a livre manifestação é “um dos núcleos fundamentais da liberdade de expressão”.
E lembrou que fez “ressalva expressa, na entrevista, no sentido de que não estava imputando má-fé a ninguém”.