Por Vítor Diniz, em artigo enviado ao blog A entrevista do ex-juiz Sérgio Moro ao programa “Conversa com Bial, da Rede Globo, foi reveladora.

O atual ministro da Justiça não poderia ter sido mais claro: ele está pronto e disposto a dialogar com a política (velha ou nova) para atingir os seus objetivos.

Sérgio Moro é, hoje, o ministro mais político do governo Bolsonaro.

Tem uma agenda bem definida e fácil de ser defendida.

Ou melhor, difícil de ser combatida.

Que parlamentar em sã consciência vai se posicionar contra o fim da corrupção e do crime organizado?

A questão central da estratégia de Moro é que ele reconheceu, após algumas faíscas com Rodrigo Maia, a importância do diálogo com o Congresso Nacional.

Aprendeu que jogar para a plateia não é suficiente para ter seus projetos aprovados. “É preciso fazer política também”foi a frase utilizada pelo ministro, reconhecendo a importância do diálogo e da discussão política para que as prioridades do Ministério da Justiça avancem no parlamento.

O processo de criminalização da política, maximizado pela Operação Lava Jato, não faz mais parte do cardápio de posicionamentos do ex-juiz Moro.

Em sua nova fase como ministro de Estado, há uma clara mudança de comportamento, chegando ao ponto de afirmar, que Caixa 2 em eleições não é corrupção.

A nova forma de abordar o Caixa 2, como crime eleitoral sem evidente contrapartida do agente público, é uma clara sinalização à classe política.

Em tempos de extremismos políticos, se coloca como um moderado, avesso a polêmicas e pronto para dialogar com membros do governo e da oposição.

Reconhece que suas palavras e opiniões têm um peso muito maior desde que virou ministro.

O futuro político de Moro depende fortemente do seu desempenho como ministro da Justiça e Segurança Pública.

Hoje, Moro é o político mais popular do Brasil.

Seu desafio é mostrar capacidade de lidar com problemas estruturais do Brasil, que não podem ser resolvidos da noite para o dia.

Ao ser perguntado sobre seus planos para 2022, STF ou presidência, como todo bom político, Sérgio Moro respondeu que não é hora de pensar nisso.

Vitor Diniz é mestre em Ciência Política (USP)