Recife, a noiva da Revolução Por Geraldo Julio, prefeito do Recife pelo PSB Cidade insurreta, Recife, a capital do Nordeste e da criatividade, jamais se curvou às discordâncias ideológicas de natureza político-econômica.
Abrigo de nomes inspiradores como Frei Caneca, Leão Coroado, Gregório Bezerra, Dom Hélder Câmara e Miguel Arraes, entre muitos outros, a cidade, seu povo e seus pensadores sempre se manifestaram a favor da liberdade e de um mundo mais justo para todos.
Causa, portanto, estranhamento e surpresa à cidade natal de Paulo Freire a notícia de que há o que se celebrar em relação aos acontecimentos que envolveram o Brasil em uma sombria penumbra entre os anos de 1964 e 1985.
Não há o que se comemorar.
Há sim, o que não esquecer, pois um povo que desconhece o seu passado é incapaz de construir um futuro melhor para a coletividade.
Sendo assim, vamos rememorar.
LEIA TAMBÉM » Bolsonaro nega ditadura e diz que comemoração do golpe de 64 será restrita a quartéis » Defensores criticam comemoração de golpe de 64: ‘é retroceder’ » MPF critica recomendação de Bolsonaro de comemorar golpe de 1964 » Termo não é comemoração, diz ministro sobre aniversário do golpe de 64 » Bolsonaro determina que sejam feitas ‘comemorações devidas’ a 64 O golpe foi instaurado no dia 31 de março de 1964.
O que parecia uma mentira se tornou um pesadelo cuja bandeira defendia o uso da força para coibir uma suposta ameaça vinda de teorias alinhadas aos discursos de esquerda.
Sim, foi golpe.
A destituição de João Goulart, presidente legitimamente e democraticamente eleito, foi só o primeiro dos pequenos e grandes golpes que se estenderiam por duas décadas.
Direitos políticos cassados, silenciamento e sumiço de pessoas cujas discordâncias ideológicas causavam estranhamento aos militares no exercício do poder, supressão de eleições, auto-exílio ou diásporas forçadas aos filhos da pátria que lutavam pela liberdade de seus pares.
Em Recife não foi diferente. À frente do Palácio do Campo das Princesas, Miguel Arraes recusou-se a deixar o prédio mediante coação dos militares do Exército para não trair os eleitores que haviam depositado nele suas esperanças traduzidas em votos.
Preso, deposto e encarcerado por mais de um ano, exilou-se na Argélia e só pôde abraçar os seus mais de uma década após a instauração das atrozes injustiças impostas ao povo de seu torrão natal.
Recife foi palco de revoluções.
Estas sim, nós as celebramos.
Celebramos o dia 6 de março para nos lembrarmos da Revolução Pernambucana de 1817.
Rememoramos a Insurreição Pernambucana, quando negros, índios e brasileiros lutaram lado a lado para por fim à ocupação dos holandeses no Século XVII.
Relembramos a Guerra dos Mascates, a Confederação do Equador e a Revolução Praieira.
Brindamos e saudamos a memória de todos aqueles que conspiraram a favor dos ideais de liberdade e justiça em todos esses movimentos.
A esses, a cuja memória devemos honrar, devotamos nosso desejo de sermos uma cidade cada vez mais justa e com melhores oportunidades para todos.
Por estas pessoas, Recife sempre será aquela cidade descrita pelo poeta Carlos Pena Filho, como a Noiva da Revolução.