Por Daniella Brito Alves, jornalista, assessora de imprensa e mestre em Sociologia Salaam Aleikum.
Foi com essa saudação em árabe que significa “a paz esteja com vocês” que a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, iniciou seu discurso na última terça (19) o primeiro no parlamento após os ataques que mataram 50 pessoas e feriram outras dezenas em duas mesquitas em Christchurch, na sexta-feira (15).
Ciente que há muitos fatores que merecem ser analisados no momento atual e na ação do governo neozelandês e, sobretudo, de sua primeira-ministra neste ato de terrorismo, e longe de propor um enfoque superficial e simplista, o que me leva a escrever esse texto é o papel fundamental, eficiente e necessário da comunicação institucional no posicionamento do poder público no pior atentado a tiros da Nova Zelândia.
O que podemos aprender com ele também.
O discurso, na casa que representa a população, é um importante exemplo.
Ao iniciar suas palavras com essa saudação, a primeira ministra reconhece os muçulmanos e a dor deles como a dor de seu país e revela que o discurso é o da paz, não do ódio.
Ao dizer que não dirá nunca o nome do atirador, a premiê acerta novamente e assume de vez o protagonismo da história do ponto de vista da comunicação. “Eu imploro, fale os nomes daqueles que perdemos em vez do nome do homem que os levou.
Ele é um terrorista.
Ele é um criminoso.
Ele é um extremista.
Mas ele vai, quando eu falar, ser alguém sem nome", afirmou em trecho do discurso.
Foi um soco no estômago de partes da imprensa que ao evidenciar com destaque o criminoso, bem como as imagens do crime e das vítimas mortas, acaba dando notoriedade à ação, à forma e às causas por trás destes assassinatos: o discurso do ódio, a intolerância, o fascismo, o racismo.
Presente como porta-voz de seu governo desde o início da crise quando usou o hijab, o tradicional véu usado pelas mulheres muçulmanas, visitou as famílias das vítimas e afirmou que enquanto o governo busca esclarecer os fatos do atentado pretende mudar as leis de acesso a armas no país, Jacinda investe no discurso da inclusão, com foco no pertencimento das minorias e na condenação a qualquer ato de extremismo. “Minha missão é garantir a segurança de vocês, sua liberdade de culto, sua liberdade de expressar sua cultura e sua religião.
A Nova Zelândia é essa que vocês veem (apontando para a reunião com a comunidade islâmica).
Nada do que aconteceu nos representa”, disse Jacinda dias depois do ataque.
Ao dar seu rosto ao rosto desta tragédia, as muitas lições de Jacinda têm muito mais a dizer que seu discurso e não se resumem a estratégia de comunicação, são exemplos de respeito e de atuação política e governamental.
De liderança, de estadismo, de inclusão, de cidadania, de diversidade.
Para seu país e para o mundo - os vídeos viralizaram nas redes sociais – a primeira-mnistra, a mais jovem de seu país, mostrou com palavras e atos o que se espera de um governante, sobretudo em momentos tão tristes, presença e defesa de todos, por todos e em nome de todos.
Uma lição de humanidade.
O mundo precisa de mais Jacindas.