Por Felipe Oriá, em artigo enviado ao blog Enquanto o STF vota o que estão chamando de “o fim da Lava Jato”, o Brasil ganha uma segunda chance de abrir a caixa preta do Judiciário.

O Senador Alessandro Vieira (PPS-SE) do Movimento Acredito colhe, desde ontem, assinaturas para a abertura de uma CPI das Cortes Superiores.

O requerimento inicial foi arquivado contra o Regimento Interno do Senado e a vontade de milhões de brasileiros.

Com o novo requerimento, Pernambuco também ganha uma segunda chance: de se retratar com sua tradição vanguardista.

O judiciário é hoje o único poder que vai na contramão da onda de transparência e moralização do Estado brasileiro.

Os tribunais superiores que deveriam servir de exemplo, lideram as más condutas.

Cansamos de ver juízes usarem instrumentos processuais, os famosos “embargos de gaveta”, para decidir (ou não) segundo interesses pouco republicanos.

Sobram nessas cortes casos idênticos em que decisões e tempo de tramitação variam de acordo com o interessado.

Assistimos um ministro do STF usar uma liminar de auxílio moradia como moeda de troca para extorquir aumento salarial do governo para a categoria.

Pior, vimos um Congresso conivente com esses desmandos.

O ano começou com a euforia da renovação.

Apenas 8 senadores conseguiram se reeleger.

Porém, quem apostou que junto com a renovação de rostos viria a de práticas ficou com um gosto amargo.

Pernambuco, não só não foi parte da onda de renovação, mas tampouco esteve do lado dos defensores de um novo relacionamento com o judiciário.

Os três senadores pernambucanos não assinaram o requerimento de abertura de CPI e sequer justificaram seu posicionamento - ou falta dele.

Um grande professor me ensinou que Pernambuco é um estado revolucionário e reformador.

O que pensaria Frei Caneca ao ver seus ideais corrompidos em nome de uma suposta “harmonia” com o governo?

Finalmente, onde está o espírito reformador de Joaquim Nabuco quando se é omisso em reformar os pilares do nosso judiciário?

Corrupção se combate de cima para baixo e a segurança jurídica a que tanto almejamos começa nas cortes superiores.

Os próprios magistrados concordam que é preciso mais transparência como aponta pesquisa recente em que nove em cada 10 juízes querem que o STF se submeta a uma corregedoria.

Sem isso, será inocência achar que as grandes investigações sobre corrupção chegarão às últimas consequências.

Quem não deve não teme.

Nunca esse ditado coube tão bem quanto nesse caso.

Tanto para as cortes superiores, quanto para os nosso senadores.

A saga dos eleitos do Movimento Acredito por uma renovação de práticas apenas começou.

A CPI é um dos instrumentos que materializam essa esperança, mas precisará contar com o apoio da população para pressionar os demais parlamentares.

A batalha por um judiciário transparente terá muitos episódios.

Que nossos senadores reencontrem sua pernambucanidade e nos honrem nessa nova oportunidade.

Felipe Oriá é cientista político, mestre em políticas públicas pela Universidade de Harvard e co-fundador do Movimento Acredito.