Por José Paulo Cavalcanti Filho, em sua coluna no JC desta sexta Nosso Ministro da Educação baixou Portaria recomendando que as escolas cantem o Hino Nacional.

Vamos ao tema.

E começo lembrando que hino, por toda a antiguidade clássica, era nome dado aos cantos sacros.

Só bem depois passou a ser uma exaltação à pátria.

O primeiro hino entoado em terras brasileiras foi o Wilhelmus Von Nassauven.

Aqui mesmo, no Recife, durante a ocupação holandesa (1630-1654).

Em homenagem a Maurício de Nassau, claro.

Mais tarde, em 1808, a família real se fez ao mar por temor a Junot, general de Napoleão.

Toda gente sabe disso.

O que poucos sabem é que trouxe, na bagagem, um Hino Nacional Patriótico Realista Lusitano.

De Marcos Portugal.

Para ser nosso Hino Nacional.

Achando pouco, o próprio Príncipe Regente acabou escrevendo outro, o Imperial Constitucional – que, curiosamente, acabou se tornando Hino Nacional Português.

E foi entoado na coroação de Dom Carlos.

O único rei assassinado em Portugal, Regicídio, assim se diz do episódio.

Mas essa é outra história.

Certo é que nós brasileiros passamos a ter, portanto, dois hinos.

Mas nenhum dos dois fazia sucesso.

Em 1889, veio a República.

E durante dois meses, por compreensível mimetismo, acabamos usando emprestado o hino da França.

Até quando Deodoro da Fonseca esbravejou: “Basta de Marselhesa”.

Para escrever um novo hino nacional, o Governo Provisório convidou Carlos Gomes - consagrado autor de O Guarani, Fosca e O Escravo.

Chegando a remeter para Milão, onde morava, cheque de 20 contos de réis-ouro.

Uma fortuna, à época. “Não posso”, foi sua curta resposta.

Era grato a Pedro II - por lhe haver garantido bolsa de estudos, na Europa.

Poucos lhe louvaram esse gesto de reconhecimento e grandeza.

A bolsa foi cancelada.

Não se falou mais disso.

E Carlos Gomes morreu desgostoso, logo depois.

A solução foi recorrer a concurso público, em que foram inscritas 29 músicas.

Sendo apresentadas, no Teatro Lírico (Rio), as 4 finalistas.

Depois, o que se ouviu, foi um silêncio constrangedor.

Ninguém gostou.

Nem a comissão julgadora.

Então as fanfarras tocaram, espontaneamente, a Marcha Triunfal de Francisco Manuel da Silva – que nem escrita para ser hino foi.

Mas era ela que o povo entoava pelas ruas, em momentos cívicos, desde 1821.

Com Deodoro mandando o concurso às favas e encerrando a questão – “prefiro o velho”.

O Brasil passava a ter seu hino oficial.

A letra veio depois.

Como todos sabem, é de Osório Duque Estrada.

Mas os versos não foram todos escritos como os cantamos, hoje. “De um povo heroico o brado retumbante” era “Da independência o grito retumbante”. “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido” era “Brasil um claro sonho, um raio vívido”. “De amor e de esperança à terra desce” era “Da fé no seu futuro às almas desce”.

Na hora de cantar, alguns problemas acabaram sem solução. “Natureza” ganhou mais um E, virando nature-eza. “Grandeza” também, grande-eza.

Como “Desce”, de-esce. “Colosso” passou a ter mais um O, colo-osso.

Como “Penhor”, penho-or.

Sem contar novas palavras que acabaram nascendo - como terradorada ou heroicubrado.

Faz mal não.

Viva nosso hino.