Por Vítor Diniz, mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), em artigo enviado ao Blog.
A eleição de 2020 para a Prefeitura do Recife promete ser animada, com a possibilidade de haver um bom número de candidatos, das mais diversas correntes ideológicas.
Recife é uma metrópole, e seu povo sabe muito bem disso.
Exige do governo serviços públicos de qualidade, modernos e sem nunca deixar de lado o aspecto vanguardista da cidade, sempre à frente do seu tempo. É comum dizer que Recife é uma cidade “esquerdista”, ainda que seja impreciso utilizar o termo para retratar o posicionamento político de boa parte dos prefeitos recifenses.
Mas esse é apenas um detalhe e não deve ser o fator primordial para a análise das eleições de 2020.
Ainda que as discussões sobre política tenham ficado mais acaloradas nos últimos tempos, a eleição para Prefeito do Recife é muito mais complexa do que a velha divisão entre Esquerda x Direita.
E também não podemos cair na armadilha de analisar a eleição municipal com base no desempenho dos presidenciáveis nas últimas eleições.
Essa informação vale muito pouco.
O que estará em jogo no Recife é a continuação de um legado, de uma narrativa, uma história que foi resgatada por Eduardo Campos em 2007, quando se tornou governador.
Aquela vitória, extremamente simbólica e consagradora, colocou o PSB como a peça central do sistema político pernambucano, espremendo os outros partidos e apagando a luz de vários atores.
Mas é justamente essa predominância que deve ser explorada como ponto fraco.
Quem vier a desafiar o PSB não poderá repetir fórmulas batidas de campanha, nem ser oposição tradicional.
Será preciso ter a coragem de atacar a parte mais importante do partido: o legado de Eduardo Campos e do PSB em Pernambuco.
Se os adversários do PSB insistirem em centrar a campanha em críticas “aos problemas do Recife”, as chances de derrota serão ainda maiores.
O momento é de questionar diretamente os expoentes do partido, criando um antagonismo claro, sem tecnicalidades nem subterfúgios comuns às campanhas eleitorais.
O recifense só vai arriscar se enxergar a oportunidade de uma mudança completa, uma verdadeira quebra de paradigma.
Para isso, não será suficiente apontar os problemas, reclamar da saúde, da paralisação de obras ou falta de creches. É preciso construir uma polarização desde já, independente da escolha do candidato pelo PSB.