Por Luciano Siqueira, especial para o Blog de Jamildo Até mesmo porque é a expressão institucional da vida como ela é, a luta política nunca foi nem será simples.
Toda tentativa reducionista de enquadrá-la em alguma espécie de gabarito principista dá errado.
Embora na essência interesses de classes e de segmentos de classes se façam presentes em todas as esferas da vida, e alimentem o conteúdo essencial da luta nas suas variadas dimensões, algumas correntes políticas teimam na tentativa de enquadrar tudo como se fosse uma coisa só.
Porém cada trincheira tem suas peculiaridades e suas exigências.
A luta sindical, por exemplo, põe em choque contradições entre detentores do capital versus trabalhadores – mesmo quando vivenciadas na esfera institucional, entre governos versus funcionalismo público.
A luta popular das periferias urbanas por moradia e condições de infra-estrutura que lhes assegurem vida minimamente digna, idem.
O mesmo ocorre com as lutas que empolgam a juventude estudantil e também grupos sociais motivados por bandeiras temáticas, como a sustentabilidade ambiental, por exemplo.
No parlamento, nas três esferas federativas, o mesmo se dá.
Com suas próprias nuances.
Via de regra, sobretudo no inicio das legislaturas, coloca-se em questão o respeito às regras regimentais, indispensável a que maiorias eventuais não passem o rolo compressor, atropelando as minorias.
O direito de expressão, a participação nos órgãos colegiados segundo a proporcionalidade medida pelo tamanho das bancadas (ou blocos parlamentares) e o trâmite normal de projetos de Lei são indispensáveis à porfia parlamentar.
Alguns, por inexperiência ou mesmo por miopia programática e tática, abordagem desafios decorrentes da correlação de forças nas casas legislativas como se fora um mero embate de ideias ou o prolongamento de conflitos eleitorais.
Esses tendem a uma atitude infantil de “marcar posição”, via de regra jogando para a platéia ao invés de assumir suas responsabilidades.
Outros se negam a emprestar sua força ao embate democrático se a hegemonia do processo não lhe estiver garantida. É um hegemonismo doentio presente em muitas derrotas das forças democráticas e progressistas.
Entretanto, felizmente, não falta a visão estratégica e o pragmatismo tático consequente a correntes políticas presentes no parlamento, que agem no sentido de assegurar as condições necessárias ao jogo democrático, mesmo quando sob correlação de forças adversa.
Quem acompanhou a eleição da presidência da Câmara dos Deputados, recentemente, haverá de compreender muito bem essa constatação prática inequívoca: cada trincheira impõem sua moldura e é preciso travar o bom combate em quais quer circunstâncias.