O pior Parlamento da história Por Carlos Andreazza, no jornal O Globo Tomou posse aquele que será o pior Congresso da história.

Conforme já exprimiu o Senado na estreia: uma mistura perniciosa entre velhacos ameaçados e moleques oportunistas.

Uma legislatura destinada, pois, à frustração dos crentes, aquela decorrente de se compreender mudança e renovação como valores virtuosos per se .

Uma obviedade: um Parlamento, como uma empresa ou família, é composto de pessoas.

Se a matéria humana, fresca ou curtida, é ruim, ainda que haja exceções, impossível será um conjunto bom.

A este estado de coisas se somem a condição preponderante entre os novatos — o despreparo — e o sentimento que o primeiro contato com o poder estimula nos fracos: o deslumbramento; chave para a modalidade de autossuficiência cujo desdobramento imediato estará em calouros ignorantes que se julgam independentes, inclusive de agendas reformistas, como nem o mais cascudo entre os veteranos jamais foi.

Isto muito se verá no PSL.

Ora com relevante representação na Câmara tanto quanto sem experiência sobre o que seja atividade político-partidária, o partido — seu comportamento como equipe a ser liderada — é uma incógnita.

Mais espantoso produto do fenômeno eleitoral bolsonarista, a bancada do PSL, ressalvados dois ou três nomes, compõe-se de gente cujo único mérito esteve em haver se associado a Bolsonaro no momento certo.

Um amontoado heterogêneo de desqualificados para a função e representativos da nova etapa do processo de transformação do Parlamento num baixo clero absoluto, progressivamente esvaziado de líderes, em que os partidos têm dissolvidas as suas unidades e em que a desintegração já concebeu 594 Congressos.

Varejo mais do que nunca.

A tragédia da representação vai além.

Porque à qualidade humana média indigente dos parlamentares se deve acrescentar a assombrosa falta de costura política do governo no Congresso.

Que não se confunda a exploração do sentimento anti-Renan para vencê-lo com a complexa tessitura de uma base de apoio em torno de projeto.

O Planalto não tem articulação no Parlamento.

A Casa Civil não alcança deputados, muito menos senadores.

Daí por que seus movimentos voluntaristas, deixando digitais por toda a parte, só consigam produzir uma interferência como aquela armada no Senado, obra-prima da tratoração cujo resultado consistiu em definir inimigos e organizar uma oposição sabotadora.

O governo ganhou no Senado?

A vitória de Onyx Lorenzoni é do governo Bolsonaro?

Quem é Davi Alcolumbre, o herói?

Quem conhece o alpinista?

Quantos entre os que se uniram para bater o sete-peles Renan — e que lhe deram 42 votos entre 81 — se unirão pela reforma da Previdência?

Randolfe Rodrigues?

Ilude-se quem avalia que possa contar com um Kajuru mais do que com um Calheiros.

Quem articula para um governo — e não em prol de um projeto pessoal de poder — trabalha para a formação de maioria, de consenso; jamais de hostilidade.

Não foi o que se passou na eleição do Senado, da qual Bolsonaro saiu como entrou, sem base de apoio, mas com adversários estabelecidos e mobilizados.

Se a agenda principal do Planalto for mesmo o lava-jatismo e projetar, como programa de governo, quatro anos de expurgos a adversários, tudo certo: o caminho é este e para tanto não se precisará de operação política.

Teríamos mais uma jornada de banquete jacobinista, sangue à farta, com o país — aquele que tenta produzir — paralisado.

Se, porém, a prioridade for fazer prosperar um projeto estrutural de reformas liberais, começou-se muito mal.

Ser governo e compreender a eleição para o comando de um poder da República como etapa de um processo revolucionário seria apenas burrice não tivesse impacto potencial sobre o pulso econômico de um país que precisa gerar empregos.

O governo Bolsonaro, eleito, continuará brincando de revolta dos caminhoneiros até quando?

O presidente da República e o Congresso são expressões do zeitgeist brasileiro, eleitos sob violento ataque à atividade política e em detrimento da cultura de representação — de negociação, diálogo e composição.

Fazer política tornou-se prática delinquente.

Afastar-se do exercício político, ativo eleitoral.

Todos merecem desconfiança.

Todos desconfiam.

Já é palpável o clima pesado no Congresso, mesmo ainda tão recente a legislatura: deputado/senador bandido, sedento por cargos e ciente de que o governo logo necessitará dele, calcula o preço a cobrar e embute a taxa “me desprezou e agora precisa”; e deputado/senador sério ofendido por haver sido tratado como marginal no palanque de criminalização geral do Parlamento sobre o qual Bolsonaro armou um de seus discursos eleitorais mais decisivos — sem interlocução com o governo por cuja agenda reformista gostaria de trabalhar.

Para se ter uma ideia do drama: Rodrigo Maia pode ser o salvador.

Mais: terá de ser.