Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife pelo PCdoB Os embaraços do capitão presidente e seu governo, antes mesmo de completar um mês de instalado, surpreendem pela rapidez e pelo potencial corrosivo.

Mas é precipitado que alguns analistas declarem natimorto o presidente recém-empossado.

Os que assim se posicionam não alcançam a dimensão da derrota eleitoral de outubro passado, nem compreendem a natureza do poder no Brasil no formato atual.

Nem se dão conta de que a oposição ainda engatinha.

Sobretudo subestimam os poderosos interesses em jogo, daqui e de fora do país, em torno da agenda ultra liberal do governo.

Dai importa não confundir, por exemplo, as escaramuças do sistema Globo - desgastantes para o governo - com descompromisso desse complexo midiático com o cumprimento da agenda econômica.

O mau humor do capitão presidente em relação à Globo e a visível preferência pelas redes Record e SBT causam conflitos, mas não a ponto dos Marinho se bandearem para a oposição.

Nenhum dos interessados na dita agenda cometeria a asneira de deixar cair Bolsonaro, pois reza a Constituição que, se tal viesse a acontecer no espaço de vinte e quatro meses desde a posse, novo pleito presidencial seria convocado, pondo em risco os frutos das urnas de outubro.

Ou, pior, uma ruptura da ordem institucional.

Na verdade, por mais atabalhoada que seja a conduta do presidente, expondo o Brasil ao ridículo perante o mundo, há muita lenha a queimar.

Ou seja, muitos são os mecanismos pelos quais é possível manter o capitão onde está, tocando o governo através de estruturas que abrigam quadros capazes de fazer a roda girar.

Demais, o ambiente no qual se desenrolam as contradições no interior do governo – muito longe ainda dos 100 graus centigrados - e os desgastes prematuros diante da opinião pública não têm peso para alterar a correlação de forças na sociedade.

Por outro lado, a dispersão ainda é a marca na oposição, onde projetos partidários exclusivistas estão postos acima da defesa comum da democracia, dos direitos do povo e da soberania do país.

Infelizmente.

Então, melhor evitar arroubos inconsequentes e seguir, na análise e na atitude, o ritmo adequado na condução do andor, pois o Diabo está vivo, tem muita força e gordura para queimar.