Estadão Conteúdo - A Receita Federal vai fechar o cerco em torno dos deputados estaduais do Rio e servidores da Assembleia Legislativa do Estado envolvidos com movimentações financeiras consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Entre os alvos, estão Flávio Bolsonaro (PSL) e seu ex-assessor Fabrício de Queiroz.

A partir desta semana, o Fisco começa a fazer o cruzamento das informações levantados pelo Coaf com as declarações de Imposto de Renda dos citados na Operação Furna da Onça.

O jornal O Estado de S.

Paulo mostrou que a apuração envolve 27 deputados e 75 servidores.

Desse total, ao menos 28 funcionários e ex-funcionários da Alerj possuem uma movimentação financeira no mesmo padrão da de Queiroz - com recebimentos de outros servidores da Alerj, saque e depósitos em espécie e em dias próximos ao pagamento do salário.

LEIA TAMBÉM » ‘Se Flávio errou, ele terá de pagar e eu lamento como pai’, diz Bolsonaro » Flávio Bolsonaro se diz vítima de campanha para atingir o pai » Flávio Bolsonaro homenageou em 2004 suspeito de participar da morte de Marielle » ‘É um problema do Flávio; ele vai resolver isso aí’, diz Mourão O pente-fino será feito em conjunto entre as áreas de fiscalização e de inteligência da Receita e vai garantir o aprofundamento das investigações pelo viés tributário.

Servidores da Receita dizem que a lupa pode ajudar a esclarecer pontos de interrogação na investigação criminal.

A Receita consegue identificar, por exemplo, se uma empresa que eventualmente fez um depósito para um deputado ou seu assessor é de fachada.

Dona do maior banco de dados da América Latina, o órgão dispõe de informações que podem apontar se a firma tem funcionários, quantos e qual seu rendimento.

A área de inteligência da Receita participou da primeira fase da Operação Furna da Onça, para a qual o Coaf produziu os relatórios.

A retomada da análise dos dados, desta vez cruzando as informações, é considerada no órgão como sequência natural desse trabalho.

Se o cruzamento aponta incoerência entre as operações financeiras e a declaração de IR, a pessoa é autuada.

Dinheiro vivo O relatório do Coaf mostrou que o filho do presidente Jair Bolsonaro recebeu em sua conta depósitos fracionados no valor de R$ 2 mil cada no total de R$ 96 mil, além do pagamento de título da Caixa de R$ 1 milhão.

Os dois casos estariam relacionados à compra de imóveis.

Flávio disse em entrevista que recebeu R$ 96 mil em dinheiro vivo.

A Receita tem como investigar se essa explicação é coerente com os fatos cruzando os dados dele e do vendedor.

Com relação a Queiroz, o Coaf identificou movimentações suspeitas numa conta que movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

Além disso, as informações do Coaf revelam que ele recebeu pagamento em sua conta de ao menos oito funcionários do gabinete de Flávio. » Além de Flávio Bolsonaro, Coaf cita outros 27 políticos no Rio » Flávio Bolsonaro reclama que não teve oportunidade de esclarecer movimentações » Coaf mostra que Flávio Bolsonaro pagou título de R$ 1 mi, diz TV » Ex-assessor de Flávio Bolsonaro movimentou R$ 7 milhões em três anos, diz jornal Segundo o jornal O Globo, em outros dois anos Queiroz teria movimentado R$ 5,8 milhões.

Nesse período, ele ainda trabalhava para Flávio na Alerj.

Como revelou o Estado, Queiroz repassou ainda R$ 24 mil para a conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Na época, o presidente justificou que era pagamento de um empréstimo que ele havia feito a Queiroz e que usou a conta da mulher porque não tinha tempo para ir ao banco.

Uma fonte da Receita diz que esse é um dos detalhes que será apurado no pente-fino.

Queiroz será chamado a esclarecer o repasse feito para a primeira-dama.

Se confirmar que se trata de um empréstimo de Bolsonaro, terá de demonstrar como ele recebeu esse dinheiro do presidente.

Nesse caso, será checado se o valor saiu mesmo da conta de Bolsonaro.

A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, formada por mais de 90 entidades, vai retomar neste ano a discussão sobre pagamento em dinheiro vivo para a compra de bens.

O assunto foi tema no ano passado, mas não se chegou a uma conclusão.

Uma das ideias é impedir a compra de imóveis dessa forma.

Nenhuma parcela do valor poderia ser feita sem passar pelo sistema financeiro.

Os investigadores dizem genericamente que a compra de bens em dinheiro vivo é uma das formas de lavagem de dinheiro.