Seis penosos minutos Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife pelo PCdoB Inicialmente, os organizadores do evento lhe ofereceram trinta e cinco minutos.

Ele recusou, pois tanto tempo não lhe seria necessário.

Ficou combinada uma fala de quinze minutos, o suficiente para que o orador sintetizasse a grande novidade: os rumos que a extrema direita, excepcionalmente no poder através das urnas, pretende imprimir ao principal país da América do Sul.

O orador usou apenas seis minutos — sofridos minutos ocupados por uma voz reticente, titubeante, entrecortada pela tensão própria de quem vai à tribuna sem saber o que dizer diante de um público qualificado.

O vexame surpreende não propriamente pelos predicados do orador, de mente precária e vocabulário tosco, dado a rompantes agressivos, preferencialmente quando se pronuncia sobre seu tema predileto — o combate à violência criminal através de mais violência.

Se possível, com cidadãos armados para uma suposta autodefesa.

Mas o público reunido naquele auditório, em Davos, na Suíça, não estava interessado nesse assunto.

Nem na cantilena, agora precocemente esmaecida, do combate à corrupção.

Desejava saber da economia, pois ali se examinam alternativas à crise global sob a ótica do sistema financeiro, predominantemente.

A surpresa está na ausência de um texto que o orador pudesse ler, preparado pelos Chicago Boys ocupantes do super ministério da Economia.

Deixar o orador entregue à própria sorte foi um erro.

Ou mais uma manifestação da desarticulação da equipe governamental?

Pior: o vexame se segue nos contatos bilaterais constantes na agenda do capitão presidente.

O que me faz lembrar um colega de turma no curso médico da Faculdade de Medicina da UFPE, numa prova oral de anatomia.

O professor lhe entregara uma peça conservada no formol (parte do cérebro humano) e pediu que a identificasse: — O que o senhor tem em mãos? — Uma parte do cérebro, professor. — Qual parte? — … (nervoso, apertando a peça) — Responda, por favor. — Professor, eu acho que… — O senhor não acha nada, pois acabou de esmagar em suas mãos um cerebelo!

E sua nota é zero.

Se algum colega o tivesse socorrido, escrevendo a resposta numa folha de papel exibida por trás do professor, como alguns faziam, quem sabe nosso colega tivesse obtido pelo menos uma nota 4.

Mas ninguém o ajudou.

Igual ao discurso do presidente em Davos.

Faltou a fila, ficou o vexame.