Por Marco Antônio Barbosa, em artigo do Comunique-se Começamos 2019 com mais um Estado sofrendo pela crise da segurança pública.

O Ceará está a mais de uma semana sobre fortes ataques de facções, depois que medidas mais severas contra o crime foram anunciadas.

Estas organizações mostram a sua força para amedrontar a população e, consequentemente, pressionar os governantes.

Realmente, devido a anos de políticas públicas sem a menor efetividade, eles estão em vantagem nesta guerra.

Mas é possível vencer o crime organizado? É, mas não com medidas paliativas.

O uso de forças armadas, por exemplo, é necessário para estancar e devolver a ordem, mas não pode ser a única medida.

O novo governo foi eleito com o discurso de que seria duro no combate e precisa assumir esta luta com inteligência.

Vejamos como um jogo de xadrez.

Existem perdas, mas o planejamento precisa ser a longo prazo para uma vitória.

As medidas mais severas geram reações difíceis, como os ataques, mas precisam ser enfrentadas. É preciso desarticular estas organizações e, para isso, é necessário inteligência e integração.

Uma facção atua em território nacional e é sustentada por dinheiro.

Muito dinheiro.

Hoje, cada estado tem a sua forma de combate ao crime, com medidas independentes.

Nada é coordenado.

Isso precisa mudar.

A Segurança Pública deve mapear a atuação do crime organizado.

Muito mais do que atirar é preciso bloquear fontes de rendas e contas.

Antes de prender, é preciso saber quem prender.

Temos que identificar quem são realmente os chefes.

Impedir que estes, mesmo dentro de presídios, continuem comandando tudo.

Separar essas facções em prisões especiais também é uma forma de não dar para elas a oportunidade de recrutar novos criminosos dentro de cadeias comuns.

O Judiciário é outro ponto crucial desta luta.

Precisamos ser mais rápidos para julgar os quase 40% de presos que aguardam um julgamento e, enquanto isso não ocorre, contribuem para a superlotação dos presídios.

Munir as nossas polícias com estrutura, inteligência integrada e bons salários também é importante para dar força ao combate e, principalmente, diminuir a corrupção. É preciso evitar o vazamento de informações, de bandidos infiltrados.

Também não podemos deixar de lado a importância no controle efetivo das fronteiras para evitar contrabando de armas e drogas.

Outro desafio do novo governo é conseguir, junto ao congresso renovado, a aprovação de novas leis mais duras contra corrupção e crime organizado, para que possamos ter um Brasil mais justo.

Como se vê é uma guerra e deve ser tratada como tal.

Não se vence em uma ação ou uma batalha.

Para vencer o crime organizado em primeiro lugar é necessária muita paciência e estratégia.

Não é uma corrida de 100 metros rasos.

Não foi em um dia ou um mês que a criminalidade chegou ao ponto em que está hoje.

Foram anos.

No xadrez se vence peça a peça, sem perder o rei de vista.

Matar só peão não adianta.

A jogada do oponente vem em seguida e pode te levar ao xeque-mate.

Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil.

Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.