Por Sérgio Buarque, no JC de terça-feira Michel Temer termina o seu mandado como o presidente mais impopular da história do Brasil, Começou o governo com a marca do traumático processo de impeachment e teve sua imagem pessoal gravemente ferida pela denúncia de corrupção da JBS.

Entretanto, grande parte da insatisfação dos brasileiros com o presidente que se despede é uma reação aos seus acertos na realização e nas propostas de reformas estruturais tão impopulares quanto necessárias.

No seu breve mandato, Temer encaminhou e aprovou medidas incômodas que, no entanto, são fundamentais para a retirada do Brasil da grave crise econômica e, principalmente, recuperação das finanças públicas.

Aprovou a reforma constitucional que estabelece um teto dos gastos correntes, forçando a interrupção da tendência expansionista das despesas públicas, realizou uma reforma trabalhista que adequa a legislação às novas condições do mercado de trabalho do século XXI, concluiu a reforma do ensino médio e definiu regras republicanas de governança das estatais.

A imagem de Temer foi manchada, antes de tudo, pela sua proposta de reforma da Previdência.

Embora indispensável para o reequilibrio fiscal, esta reforma foi demonizada pela manipulação hábil das corporações privilegiadas e pelo oportunismo dos políticos.

O Brasil perdeu muito tempo, o quadro fiscal se agravou, tornando a reforma da Previdência mais urgente e radical para evitar o colapso da economia.

Apesar de ter fracassado na reforma da Previdência, o governo Temer conseguiu interromper o mais agudo ciclo de recessão da história do Brasil, dando início a uma modesta recuperação da economia e ao declínio do desemprego, manteve a inflação em taxa civilizada e os juros de referência (Selic) no mais baixo nível da história recente.

Mesmo assim, o governo Temer não conseguiu equacionar a crise fiscal e vai entregar ao futuro presidente um Estado falido, com elevado déficit primário, dívida pública explosiva e fortes pressões de gastos, ampliados pela generosidade irresponsável do Congresso e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A impopularidade de Temer é uma mancha na sua biografia política.

Mas evitou que o Brasil afundasse de vez no abismo.

O presidente Bolsonaro tem que avançar agora nas reformas dolorosas, especialmente a Reforma da Previdência.

Fracassará se estiver preocupado com os seus índices de popularidade.

Neste caso, os brasileiros vão sentir saudades de Michel Temer.

Sérgio Buarque é economista