O lado escuro da lua Por Fernando Dourado Filho, no JC desta quarta Se você escreve para um grande jornal e gasta seu espaço tentando galvanizar unanimidades, acho que está no lugar errado.
Mais fácil seria contratar uma claque digital, anabolizar o número de seguidores em redes sociais e ser carregado em triunfo por centenas de curtidas anódinas que ecoam o “déjà vu”.
Isso dito, não hesito em dizer que Michel Temer – o que quer que lhe aconteça em 2019 –, foi um dos melhores frutos que o PT plantou.
Pois tivesse o Brasil um vice do partido, ou de grêmios afins, o pós-impeachment teria sido um atalho para a instauração do caos.
Reconhecer esse crédito ao PT não é pouca coisa.
Afinal, a fundação desta agremiação se insere no panteão das catástrofes nacionais, vindo em terceiro lugar depois da escravidão, a mãe de toda a desgraça; da fundação de Brasília, o corolário do clientelismo; e logo antes da morte de Tancredo Neves, que detém a quarta posição.
Como sabemos, Temer foi escolhido pelo PT pelas más razões.
Das quais, sobressaía a familiaridade com o lado sinistro da política.
E no entanto, com o defenestramento de Dilma Vana – um engodo estelar que compete com Collor no Executivo, e a cuja companhia poder-se-ia agregar o clero rasteiro do Legislativo – eis que Temer, um operador de bastidores de fala contida e sagacidade fenícia, sobreviveu a todas as borrascas imagináveis e chega ao final do calvário, com pelo menos três méritos inequívocos: entrega um país melhor do que aquele que recebeu; manteve a navegabilidade a despeito das urdiduras de Janot – cuja fome por glória custou ao País centenas de bilhões ao tirar de foco a Reforma da Previdência –, e entregará a faixa como o político mais odiado pelo PT, ira esta que enaltece qualquer currículo.
Isso dito, e já que comecei falando de jornais, nada surpreende tanto quanto ver o espanto fingido da imprensa de Brasília.
Ora, pelo menos desde os anos 1990, todos sabiam do compadrio de parlamentares com a máquina ministerial e as engrenagens das estatais.
Que Temer tinha poderes sobre o porto de Santos, até cegos discorriam sobre a ligação umbilical dele com Wagner Rossi.
Longe de lhe atenuar a culpabilidade, um conluio de 30 anos não deveria surpreender a opinião pública.
O que ninguém diz é que foi justamente por não integrar uma célula de escoteiros que Temer ganhou a preferência do PT, que dele não queria o estadismo, que hoje sabemos que havia, senão o mapa do lado escuro da lua.
Seja como for, quando a História examinar seu biênio, fará justiça ao Presidente que sai.
Mas a essa altura as luzes estarão em outro penduricalho que também deve a vida ao PT.
Fernando Dourado Filho é escritor