Não foi apenas a questão de infra-estrutura para receber e cuidar do acervo do artista Abelardo da Hora que determinou a decisão da família de doar o patrimônio para o Estado da Paraíba.
Uma das primeiras considerações feitas foi que a matriarca da família, esposa de Abelardo, era paraibana.
Depois, o próprio governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, veio pessoalmente ao Recife para tratar da aquisição. “O governador (Paulo Câmara) nunca sequer nos recebeu em pessoa.
Se fosse um cara como Eduardo (Campos) seria outro tratamento.
E mais, o governador da Paraíba veio pessoalmente a casa de Abelardo diversas vezes”. “Será um museu digno de Europa”, comemoraram. “No fundo o governo de Pernambuco achou que não teríamos coragem pra fazer o que fizemos”, avaliaram depois da decisão tomada, com a polêmica na rua.
Neste domingo, depois da resposta do governo do Estado, a família do artista plástico encaminhou ao blog uma carta pública, explicando as razões da decisão e anunciando o desfecho do destino de parte deste patrimônio artístico e cultural do Estado.
Deputado eleito critica governo Paulo Câmara por ‘perder’ acervo de Abelardo da Hora para Paraíba Governo diz que propôs expor acervo de Abelardo da Hora no Cais do Sertão Veja abaixo os termos.
Abelardo de todas as horas e de todo o Brasil Família de Abelardo da Hora Buscando esclarecer os pernambucanos sobre as notícias da transferência do acervo artístico do escultor Abelardo da Hora para um museu memorial em João Pessoa (Paraíba), a família do artista presta a todos as seguintes informações: Desde a morte de Abelardo da Hora, a família vem tentando uma solução para abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória do artista, cujo acervo não pode continuar acondicionado na antiga residência, com um custo que não pode ser bancado pela família; A família teve propostas nacionais e internacionais (incluindo Portugal, Itália, Romênia e Emirados Árabes Unidos) para a recepção de acervo, através de doação; Também houve propostas nacionais e internacionais para a compra de parte do acervo, desmembrando-o, o que nunca foi aceito pela família; Enquanto esperava uma proposta do Estado de Pernambuco desde 2014, a família recebeu do governo da Paraíba a proposta de abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória do artista em um museu / memorial exclusivo e montado especialmente para este fim, em espaço de um antigo centro de convenções na cidade de João Pessoa; Mesmo sem receber uma resposta positiva da família, representada pelos herdeiros do artista, o governo da Paraíba deu início a construção do Memorial Abelardo da Hora, finalizando-o e convidando a família a visitar o referido espaço; A família constatou que o espaço do Memorial Abelardo da Hora adequava-se a todas as expectativas desejadas, configurando-se como um espaço de qualidade internacional, à altura do homem, da obra e do legado de Abelardo da Hora; Vale salientar que o artista possui obras nos mais importantes museus brasileiros e em diversos museus internacionais; Antes de confirmar a doação do acervo do artista à Paraíba, a família mais uma vez ofereceu ao estado de Pernambuco a possibilidade de ficar com o referido acervo, desde que oferecesse as mesmas condições apresentadas pelo vizinho estado para abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória de Abelardo da Hora.
Todo o projeto do espaço Memorial foi explicado, para o conhecimento do governo de Pernambuco; Infelizmente, o governo pernambucano não pôde oferecer as mesmas e definitivas condições postas pelo governo paraibano; diante desta situação, não restou à família de Abelardo da Hora nada além de doar o acervo do artista ao estado vizinho, inclusive porque a permanência do referido acervo na sua antiga residência, além de altamente dispendiosa para a família, incorria em grande risco de deterioração; A doação mantém viva a fraternidade entre os dois estados – irmãos culturais – pois, da mesma maneira que Pernambuco abriga, mantém, preserva e divulga a obra e a memória do paraibano Ariano Suassuna, a Paraíba abrigará, manterá, preservará e divulgará a obra e a memória do pernambucano Abelardo da Hora.
Não há, portanto, nenhum prejuízo para a cultura de nenhum dos dois estados, nem para a cultura nordestina, nem para a cultura brasileira, pois o acervo de Abelardo da Hora permanecerá íntegro, como patrimônio de todos; De resto, a família dispõe de toda a documentação que comprova e embasa o que foi dito acima, incluindo os documentos enviados ao governo de Pernambuco e as respostas por ele apresentadas.
Abelardo se doou completamente ao estado de Pernambuco, como homem, como ativista político e como artista.
Foi mentor e inspirador de grande parte da geração de artistas pernambucanos do século XX; inclusive lecionando de graça, em inúmeros esforços de formação e educação artísticas, como o Atelier Coletivo – mais importante núcleo deste legado.
Por fim, transformou o Recife em uma galeria de arte a céu aberto, incentivando o poder público a criar lei específica sobre a colocação de obras de arte nas edificações da cidade.
Assim, a família de Abelardo da Hora, ensejada a já mencionada escolha pelos herdeiros da doação ao estado da Paraíba, dá por encerrado o assunto e desautoriza qualquer outra versão dos fatos que não está aqui exposta.