Ao longo de quase cem dias, a equipe da Sala de Democracia Digital – #observa2018 monitorou o debate público sobre as eleições presidenciais nas redes sociais mais utilizadas pelos brasileiros, com o objetivo de compreender as modulações do debate nestes espaços, bem como a interferência de práticas de desinformação durante a disputa.

Foram analisados mais de 130 milhões de tuítes e de 163 milhões de interações nas páginas dos 13 candidatos, entre 25 de julho e 30 de outubro, além de dados públicos do Instagram e do YouTube.

Apenas durante o período oficial da campanha eleitoral, de 16 de agosto a 28 de outubro, foram coletadas mais de 110 milhões de publicações no Twitter e de 140 milhões de interações no Facebook.

Ao longo de todo o período, foi recorrente a presença de contas automatizadas, que contribuíram para a difusão rápida e massiva de notícias falsas.

Inflamada pelo cenário de polarização política, a desinformação figurou nestas eleições como instrumento de campanha de todos os lados envolvidos na disputa.

O monitoramento resultou em 123 análises, sendo 14 reports semanais, que contribuíram para a discussão do processo eleitoral na imprensa nacional e internacional.

Entre os veículos de comunicação brasileiros, foram registradas 1.117 inserções desde o lançamento da Sala de Democracia Digital – #observa2018.

Já entre as mídias estrangeiras, 75 veículos consultaram pesquisadores e/ou levantamentos da FGV DAPP, no mesmo período.

O site observa2018.com.br, por sua vez, teve 113 mil visualizações de quase 60 mil usuários.

No Twitter, a semana do primeiro turno concentrou o maior volume de publicações — apenas no dia da votação (07/10), foram mais de 5,8 milhões de tuítes.

O volume é o maior já registrado pela FGV DAPP desde 2014 sobre um evento político com impacto nas redes, em um espaço de apenas 24 horas.

A discussão se concentra, especialmente, em torno de Bolsonaro (72,4% das postagens, no dia da votação), que, durante toda a campanha, foi quem mobilizou maior repercussão na rede.

O presidente eleito, que nas primeiras semanas da disputa dividiu protagonismo com Lula no debate político, a partir do ataque a faca sofrido no começo de setembro, em Juiz de Fora, ascendeu a um patamar muito distante de participação no debate, em relação a seus adversários.

Até então, Bolsonaro acumulava entre 200 mil e 400 mil menções diárias no Twitter — porém, após o incidente, passou a capitanear com maior destaque os fluxos de discussão sobre as eleições, duplicando de presença quantitativa na rede social.

Quando Haddad assumiu em definitivo a candidatura petista, Bolsonaro já estava sedimentado como ator central, sem expressiva concorrência na web, afora datas e episódios pontuais.

Em 06 e 07 de setembro, quando do ataque, Bolsonaro foi citado 4 milhões de vezes, e os volumes de menções sobre o então candidato do PSL não pararam de aumentar até o fim do segundo turno.

O primeiro turno se destacou, ainda, na análise de engajamento nas páginas dos presidenciáveis no Facebook.

Entre 04 e 10 de outubro, os 13 postulantes alcançaram, ao todo, 26,6 milhões de comentários, compartilhamentos e reações em suas páginas, considerando-se também interações de datas posteriores em postagens daquele período.

No segundo turno (28/10), o volume de interações foi menor em valores absolutos (18,4 milhões, entre 25 e 30/10), mas é preciso considerar que, naquele momento, a análise passou a considerar apenas as páginas dos candidatos em disputa no segundo turno.

Neste mesmo período, Bolsonaro alcançou 12,2 milhões de comentários, compartilhamentos e reações, enquanto Haddad teve 6,2 milhões.

Temas associados A associação entre os macrotemas monitorados pela FGV DAPP e os candidatos à Presidência mostrou que a Corrupção foi o assunto que mais pautou o debate sobre o pleito no Twitter.

Em seguida, outra grande preocupação dos usuários da rede foi Segurança Pública — em geral, associada a Jair Bolsonaro.

Tais publicações trouxeram, frequentemente, tanto um debate sobre propostas do presidente eleito, como a flexibilização de regras para o porte de armas, quanto uma discussão sobre casos de agressão envolvendo, supostamente, seus eleitores.

O terceiro tema mais relacionado aos candidatos, desde 25 de julho, foi Economia.

Dentre os demais tópicos centrais de políticas públicas, foi bem mais baixo o impacto no debate sobre os candidatos à Presidência ao longo de todo o período da Sala de Democracia Digital.

A agenda de habitação, por exemplo, só obteve destaques pontuais com a repercussão em falas de debates e em vínculo ao candidato Guilherme Boulos, e a pauta de cultura manteve-se em quase ausência, afora a semana posterior ao incêndio no Museu Nacional.

Educação e saúde, que geralmente mobilizavam as preocupações dos eleitores nas redes e sempre estão entre os temas de maior importância para os cidadãos, foram mais abordados no segundo turno, com Bolsonaro e Haddad — e com o presidente eleito em muito maior proeminência que o petista.

As discussões, porém, não abordaram de forma geral pautas específicas de cada tema, mas questionamentos diretamente ligados a ambas as campanhas e em vínculo com outras agendas, como as pautas de gênero.

Educação foi muito mais citada, nas redes, que saúde — assunto com menor volume de menções, na campanha, que o debate sobre programas sociais e políticas de desenvolvimento social.