Por Marcelo Soares, jornalista e professor, no Portal Comunique-se A desinformação em escala industrial foi mesmo um problema nesta eleição, como se supunha que seria desde que o Trump foi eleito.
Houve um esforço de checagem, mas ele praticamente equivaleu a enxugar gelo.
Primeiro, porque só se consegue checar uma parte pequena de toda a mentirada que circula.
Muitas vezes, checa-se as mentiras mais fáceis ou pop.
Segundo, porque quem repassa mentiras não quer checagens.
Quem gosta de checagens já tinha a preocupação de não repassar mentiras mesmo.
As plataformas apoiaram institucionalmente o esforço de checagem, visando mostrar preocupação com o problema.
Para o Facebook, apoiar esses esforços é o melhor dos mundos nesse caso.
Mostra preocupação com os efeitos ao mesmo tempo em que não toca exatamente nas causas.
Jornalistas das agências Aos Fatos e Lupa disseram que, embora o WhatsApp afirme que está de portas abertas a receber reclamações, não costuma respondê-las.
O que quase fez diferença foi verificar os bastidores da desinformação industrial.
E digo quase porque toram esforços pontuais e, enfim, tardios.
Pense no grupo que fazia as páginas Folha Política e outras.
Atuam desde 2013.
A Folha de S.
Paulo deu uma reportagem longa em 2017.
A Veja deu uma capa em janeiro.
A Época deu uma capa em abril e artigos em agosto e fevereiro.
Intercept em julho.
Estadão em alguns pontos.
Todas tocavam no mesmo grupo que o Facebook desativou apenas ontem.
Quando derrubaram a rede do Luciano Ayan, há alguns meses, foi curioso que essa também não veio abaixo.
Pegue o esquema do “lava-zap”, revelado pela Folha na semana passada.
O Correio Braziliense deu mais uma peça do quebra-cabeças depois.
Folha deu mais algumas em seguida.
As autoridades estão se mexendo.
Mas só agora, contando nos dedos os dias pra eleição e porque essas reportagens tornaram a inação das autoridades mais flagrante.
Não foi por falta de aviso, mas talvez por falta de insistência.
Talvez porque a insistência estivesse no enxugar gelo das checagens.
Marcelo Soares é jornalista.
Fundador da empresa de análise de dados e desenvolvimento de audiência Lagom Data.
Primeiro editor de audiência e dados da Folha de S.
Paulo, lecionou jornalismo de dados nas pós-graduações em jornalismo digital da ESPM e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Desde 2016 se dedica a consultorias e oficinas de audiência e análise de dados em diversas empresas de comunicação.