Para Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV), a atual polarização que tomou conta do ambiente eleitoral é fruto do descrédito nos políticos, alinhado a uma conjuntura econômica sem precedentes.
Segundo ele, a reação do eleitorado é uma resposta aos escândalos, quase diários, envolvendo políticos radicados em partidos tradicionais. “Este cenário gerou um descrédito e uma incapacidade desses partidos políticos de continuarem a representar a sociedade brasileira.
De certo ponto, o candidato que soube, de uma forma hábil e eficaz, ‘se vender’ para esses eleitores desiludidos como uma alternativa contra tudo que está aí, levou vantagem na corrida eleitoral”, analisa Carlos Pereira.
O cientista político da FGV ressalta, no entanto, que essa polarização vem desde o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e que, talvez, tenha sido constatada no país apenas no período pré-1964, quando um presidente renunciou e outro quase não assumiu. “No momento, o discurso conservador se torna viável contra o Partido dos Trabalhadores (PT), que sofreu as maiores punições nos casos de corrupção.
Já a estratégia de autovitimização, principalmente após a prisão do ex-presidente Lula, surtiu efeito como alternativa do PT à onda conservadora.
Assim os dois polos se tornaram viáveis e ao mesmo tempo se retroalimentam”, diz o especialista, que ressalta a possibilidade, não concretizada, de o centro servir como alternativa.
Porém, “o centro ficou órfão”, atesta Pereira.
Intolerância – O professor afirma que, após a redemocratização, a sociedade brasileira avançou em políticas de inclusão e de tolerância.
No entanto, ele sustenta que parte da população, contrária a essas mudanças, se viu, após 30 anos, representada, pela primeira vez, por um candidato que verbaliza essa discordância. “Não acredito que apenas o eleitorado conservador responda pelo sucesso do candidato Bolsonaro.
Existe muito antipetismo, mas não resta dúvida que esse conservadorismo estava latente em nossa sociedade”, esclarece o cientista político.
O Pereira adverte para os perigos de aumento da onda de intolerância.
O especialista diz que o candidato Bolsonaro não pode estimular esse comportamento. “É inaceitável que a população se utilize da polarização política como forma de expressão violenta.
As instituições devem ficar atentas a isso e dar um basta”, observa.
Fake News - O cientista político constata que a disseminação de notícias falsas nas eleições de 2018 é imensa.
De acordo com ele, contudo, é compreensível que a Justiça esteja com dificuldades para coibir esse tipo de comportamento nas redes. “Tudo é muito novo.
Precisa-se de um arsenal tecnológico para fazer frente a essa iniciativa fraudulenta.