Gloria a Deus!, diria o cabo Daciolo, do Patriota.

A cidade de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, pode ser a chave para entender ou tentar explicar a subida dos votos de Bolsonaro no Nordeste, mesmo sem grandes palanques.

No lançamento do Festival de Inverno, o então secretário de Cultura de Paulo Câmara, Marcelino Granja, do PC do B, ergueu um grito de “Lula Livre”, embora o tema da coletiva fosse cultura.

Um ou outro protestou e a saia justa não chegou aos jornais, nem nas páginas de cultura nem nas páginas de política.

Poucos perceberam que o ato do secretário, secundado também pela presidente da Fundarpe, já eram a senha da aliança promovida pelo PC do B que viria depois unir PT e o PSB, com a neutralização de Ciro.

Não por acaso, era a casa do prefeito Izaías Régis, um dos maiores defensores do candidato Armando Monteiro, adversário Paulo Câmara na disputa.

Os protestos da área política foram dados pelo aliado de Paulo Câmara Cleiton Collins, do PP, como o deputado estadual e candidato a federal André Ferreira, do PSC, aliado de Armando Monteiro.

Ambos são ligados às igrejas evangélicas.

No entanto, o que interessa destacar aqui é o aspecto da religiosidade ou dos costumes.

No palco do festival, Daniela Mercury criticou os conservadores e disse que se tinha de liberar os demônios.

Johnny Hooker disse que Jesus Cristo era travesti sim!

Tudo exacerbado na cidade pela apresentação da peça Jesus Rainha dos Céus.

O prefeito do PTB protestou e aconteceu uma polêmica enorme.

O que nem todos perceberam era o embate entre as forças que disputam corações e mentes no Nordeste, neste domingo.

Nesta reta final, o Ibope informou que Bolsonaro subiu de 34% para 43% nas intenções de voto entre o grupo religioso.

Haddad oscilou de 17% para 16%.

O Nordeste abriga 23% de toda a população evangélica do Brasil.

Embora a sede das congregações seja em São Paulo, a ordem para apoiar um ou outro candidato irradia-se fácil fácil, nestes tempos de redes sociais.

O engajamento dos pastores começou a ficar mais explicito depois da queda de Geraldo Alckmin (o PRB dava-lhe apoio formal).

Para comparar: Em 2014, a região Nordeste deu 60% dos votos a Dilma.

Lula tinha o mesmo antes de nomear Haddad.

Sinais, fortes sinais desta movimentação pode ser vista com mais clareza neste sábado, véspera do pleito.

Magno Malta, aliado de Bolsonaro e pastor evangélico, pediu voto explicitamente para o tucano Bruno Araujo.

Coincidência ou não, Bruno Araujo abriu o dia com um vídeo ao lado da família, pedindo votos ao lado da mulher e filhas.

Cleiton Collins, deputado mais votado de Pernambuco e pastor evangélico também, neste sábado também gravou um vídeo especialmente para pedir voto em Jair Bolsonaro.

Na gravação, ele invoca ao menos três motivos para a escolha.

Bolsonaro é contra a liberação das drogas, contra o aborto e contra a adoção da ideologia de gênero.

Collins deixou de citar mais dois “contras” de Bolsonaro, que são o casamento gay e a taxação das igrejas evangélicas.

Por entoar estes mantras, o capitão Bolsonaro amealhou o apoio declarado de três dos maiores pastores do Brasil.

Juntas, as três denominações tem mais de 20 milhões de votos, calcula-se.

A declaração de apoio foi dada nesta reta final por Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus), Estevam e Sonia Hernandes (Igreja Renascer) e o pastor José Wellington (Assembleia de Deus).

Nesta semana que passou, o Datafolha divulgou que a reação conservadora e antipetista foi amplificada e afetou todas as faixas do eleitorado.

Na Veja, Robson Carvalho, de uma congregação nacional de pastores, não escondeu o jogo. “As manifestações (#elenao) conseguiram aglutinar todos os evangélicos em torno de Bolsonaro” Dilma, que podia ser doida mas não queria perder a eleição, patinou quando foi obrigada a dar explicações sobre aborto e correu para uma igreja em Aparecida para aplacar a fúria de parte dos eleitores.

Vejam abaixo as coincidências, não?

Nasce o bom menino Na coluna painel deste domingo, na Folha de São Paulo Confirmado o cenário apontado no novo Datafolha, Fernando Haddad (PT) vai exibir figurino diferente para enfrentar Jair Bolsonaro (PSL) e a torrente de boatos sobre seus costumes no segundo turno.

O PT vai explorar mais a ligação dele com a família e com a religiosidade.

O candidato será apresentado como homem de fé, marido e pai cioso, reverente aos patriarcas, como o avô Cury Habib Haddad, sacerdote da Igreja Ortodoxa cuja foto o petista carrega dentro da carteira.

Moço de família Haddad deu uma amostra grátis dessa persona nas considerações finais do debate da Globo.

Enalteceu seu casamento de três décadas e citou o pai como uma de suas inspirações.

A exposição da vida privada do candidato faz parte da estratégia que visa neutralizar notícias falsas que se alastraram na reta final do primeiro turno.

Como o Painel publicou na sexta (5), ele fará um apelo à união em torno de seu nome assim que sair o resultado da votação deste domingo (7).