Mais uma vez, o governador Paulo Câmara (PSB) derrotou no primeiro turno, neste domingo (7), o senador Armando Monteiro Neto (PTB).
O socialista recebeu 1.918.219 votos, o equivalente a 50,70% dos votos válidos, e o petebista, 1.361.588 votos, ou seja, 35,99%, com 100% das urnas apuradas.
Usando o ex-presidente Lula (PT) como cabo eleitoral, Paulo terá mais quatro anos no Palácio do Campo das Princesas, no quarto mandato do PSB no comando da gestão estadual.
Apesar da vitória, o cenário foi mais difícil para o governador do que em 2014.
Há quatro anos, em uma eleição marcada pela morte do seu padrinho político, o ex-governador Eduardo Campos (PSB), Paulo Câmara ficou com 68,08% dos votos válidos, o equivalente a 3.009.087 eleitores.
Armando, então apoiado por Lula, teve 31,07% dos votos válidos, ou seja, 1.373.237.
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Depois de disputar com 21 siglas em 2014 e Armando com seis, Paulo Câmara este ano tem 12 legendas na sua base - o adversário tem 13.
Foto: Andréa Rego Barros/Divulgação Dois dos maiores partidos que deixaram a Frente Popular, o DEM e o PSDB, romperam por causa das eleições municipais de 2016 no Recife.
Após eles lançarem a deputada estadual Priscila Krause e o parlamentar federal Daniel Coelho (hoje no PPS), respectivamente, Paulo Câmara pediu os cargos que as siglas tinham no governo.
O PSB venceu o pleito e reelegeu o prefeito Geraldo Julio (PSB) naquele ano.
Em seguida, os socialistas passaram a fazer oposição às medidas propostas pelo governo Michel Temer (MDB), como a reforma trabalhista, retomando uma posição de centro-esquerda dois anos após apoiar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a presidência contra a então presidente petista, Dilma Rousseff.
Os socialistas decidiram deixar a base do PT em 2013 - o que já havia sido feito em Pernambuco um ano antes -, para viabilizar a candidatura de Eduardo Campos a presidente.
Foto: Divulgação O líder do PSB morreu em acidente aéreo durante a campanha e, até hoje, Armando diz que o clima de comoção levou à sua derrota em 2014.
Motivo que não se repetiu este ano, eleição em que a imagem de Eduardo Campos não foi tão explorada.
Após perder para Paulo Câmara, o senador foi chamado para assumir o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de Dilma Rousseff, cargo em que permaneceu até o afastamento.
Armando foi contra o impeachment; a maior parte da bancada do PSB, favorável.
Este ano, já com o apoio do PT e podendo usar o ex-presidente Lula como cabo eleitoral, o governador afirmou ter se arrependido do apoio ao processo “no contexto histórico”. » Bolsonaro e Haddad decidirão eleição para presidente no segundo turno » ‘Ele não, sem dúvida’, diz Ciro após resultado das urnas » Após virada, Coutinho consegue eleger sucessor na Paraíba » Em primeiro discurso após 1º turno, Bolsonaro ressalta problemas em urnas eletrônicas » ‘Nós queremos unir os democratas do Brasil’, diz Haddad Lula tinha, segundo o Ibope, 62% das intenções de voto no Estado até ser impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de disputar a presidência, por ter sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
O petista está preso desde o dia 7 de abril, condenado em segunda instância na Operação Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Já afastado do PT, Armando se reuniu a DEM e PSDB há um ano para formar uma frente de oposição contra Paulo Câmara.
Os socialistas negociaram no período o apoio dos petistas ao governador.
O partido, porém, tinha a pré-candidatura da vereadora do Recife Marília Arraes (PT) como moeda de troca e a articulação em nome do apoio nacional seguiu até o fim de julho.
O PSB conseguiu que o partido minasse Marília, que acabou disputando para deputada federal, mas não concedeu o apoio formal nacionalmente por divergências internas nos estados.
Interessava ao PT que os socialistas não fechassem aliança com Ciro Gomes (PDT).
Todos queriam usar o nome de Lula, mas só Paulo Câmara pôde aparecer em materiais de campanha ao lado da imagem dele.
Foto: Guga Matos/JC Imagem - Foto: Guga Matos/JC Imagem Foto: Guga Matos/JC Imagem - Foto: Guga Matos/JC Imagem Foto: Guga Matos/JC Imagem - Foto: Guga Matos/JC Imagem Turmas de Temer, de Lula e da Lava Jato Com a eleição deste ano marcada pela troca nos palanques, os novos posicionamentos foram explorados tanto por Paulo quanto por Armando nos guias eleitorais, nos debates e nas entrevistas.
O que mais se ouviu foram os nomes de Lula e do presidente Michel Temer (MDB).
Já nos últimos dias de campanha, o petebista resolveu também explorar a Operação Lava Jato, tema que foi deixado de lado nas eleições de 2016.
As propostas concretas para o futuro do Estado, com isso, ficaram em segundo plano.
Todos eram “candidatos de Lula”.
Já no caso de Temer, devido à baixa popularidade do emedebista - o governo é reprovado por 87% dos pernambucanos, segundo o Ibope - , os candidatos quiseram se afastar. » Em SE, Belivaldo (PSD) e Valadares Filho (PSB) disputam governo no 2º turno » Com 94,15% das seções apuradas no PI, Wellington Dias (PT) é reeleito » Operação montada pelo Palácio dá certo e Raul Henry e Renildo Calheiros são eleitos » Maranhão: Em mais uma vitória contra o clã Sarney, Flávio Dino é reeleito » Com caciques no alvo, Fátima Bezerra vai para 2º turno com Carlos Eduardo no RN Desde o início da campanha, Paulo jogou para Armando a pecha de “turma de Temer”.
Explorou o voto do adversário na reforma trabalhista.
O petebista, por sua vez, devolveu relembrando que o socialista apoiou a medida do governo Temer no início.
O governador também enfatizou que os dois candidatos ao Senado na chapa opositora - Bruno Araújo e Mendonça Filho - eram ministros.
O petebista rebateu frisando que a maioria do PSB apoiou o impeachment e ele, não.
Tem vencido a estratégia do socialista.
Foto: Guga Matos/JC Imagem Na reta final, Armando ainda tentou explorar o debate ético, levando para o guia e para o debate investigações de corrupção contra o governo e Paulo Câmara.
Citou a Operação Torrentes, deflagrada pela Polícia Federal há um ano para apurar supostas irregularidades em contratos para o atendimento de vítimas das enchentes na Mata Sul em 2010 e 2017.
Paulo Câmara não é citado no inquérito e nas denúncias, então a Justiça Eleitoral decidiu que ele não poderia mais ser relacionado à operação no guia do adversário.
Foram usados também na última semana a Fair Play, em que o governador é alvo por supostas irregularidades na construção da Arena de Pernambuco, e o fato de ele ter sido citado na Lava Jato pelo delator Ricardo Saud, ex-executivo da JBS.
O discurso não colou.
Foto: Leo Motta/JC Imagem - Foto: Leo Motta/JC Imagem Foto: Leo Motta/JC Imagem - Foto: Leo Motta/JC Imagem Foto: Leo Motta/JC Imagem - Foto: Leo Motta/JC Imagem Foto: Guga Matos/JC Imagem - Foto: Guga Matos/JC Imagem Foto: Guga Matos/Acervo JC Imagem - Foto: Guga Matos/Acervo JC Imagem Nesse cenário de discussão política, os candidatos não apresentaram planos de governo além das diretrizes apresentadas no registro da candidatura ao Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE).
Paulo Câmara foi questionado por promessas feitas em 2014: a construção de quatro hospitais, dos quais apenas um teve as obras iniciadas, o bilhete único no transporte coletivo com tarifa única e dobrar os salários dos professores.
Apesar das cobranças, elas não foram suficientes para impactar no resultado final da eleição.
Imaginava-se até o ano passado, ano com o maior número de homicídios desde a implantação do Pacto pela Vida, que a segurança seria um tema dominante na eleição.
Este ano, porém, paulatinamente, o governo está conseguindo reduzir os índices de assassinatos e roubos e o assunto não se destacou tanto quanto os aspectos políticos.
Técnico escolhido por Eduardo, Paulo tornou-se político Paulo disputou segunda eleição.
Há quatro anos, menos conhecido, a cinco dias da eleição, o socialista tinha 16% de rejeição, o máximo atingido naquele pleito, segundo o Ibope; este ano, era de 34%.
O petebista, que tinha 21% em 2014, agora chegou a 30%, também de acordo com o instituto.
Governador votou na Madalena.
Foto: Léo Motta/JC Imagem - Governador votou na Madalena.
Foto: Léo Motta/JC Imagem Governador Paulo Câmara (PSB) vota no primeiro turno Foto: Léo Motta/JC Imagem - Governador Paulo Câmara (PSB) vota no primeiro turno Foto: Léo Motta/JC Imagem Foto: Léo Motta/JC Imagem - Foto: Léo Motta/JC Imagem Foto: Léo Motta/JC Imagem - Foto: Léo Motta/JC Imagem Foto: Léo Motta/JC Imagem - Foto: Léo Motta/JC Imagem Foto: Léo Motta/JC Imagem - Foto: Léo Motta/JC Imagem Foto: Léo Motta/JC Imagem - Foto: Léo Motta/JC Imagem Paulo Câmara veio dos quadros técnicos do governo Eduardo Campos.
Auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE) desde os 22 anos - hoje tem 46 anos -, ocupou diversos cargos de gestão no órgão e passou pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Em 2007, foi chamado pelo padrinho político para integrar o governo.
Além de ter, assim como Eduardo, trabalhado no TCE, coincide a formação em economia pela UFPE.
Das três vezes em que assumiu pastas no poder executivo estadual, em duas teve a responsabilidade de resolver problemas na gestão.
No compromisso de “colocar ordem na casa”, organizou o calendário de pagamento dos servidores na Secretaria de Administração (SAD), em 2007.
Câmara assumiu o Turismo em 2011, depois da renúncia de Silvio Costa Filho (PRB), aliado de Armando Monteiro e investigado no esquema dos “shows fantasmas”, no qual foi inocentado.
Por último, assumiu a Fazenda.
Paulo Câmara se filiou ao PSB em outubro de 2013, para disputar o governo por escolha de Eduardo Campos.
Hoje, é vice-presidente nacional do PSB.