As (in) certezas Por Sérgio C.

Buarque, na página de opinião do JC Quando se trata da economia, a incerteza em relação ao futuro do Brasil pode ser tão preocupante quanto algumas certezas anunciadas pelos candidatos a presidente da República.

Diante da grave crise fiscal do Brasil, que impede que o Estado brasileiro exerça as funções de provedor social e de promotor do desenvolvimento, a ausência ou imprecisão de propostas carrega tantos riscos quanto a insistência em promessas equivocadas, quase sempre voltadas para enganar o eleitorado.

O eleitor não tem a menor ideia da política macroeconômica que seria implementada em um eventual governo de Jair Bolsonaro.

O contraste entre a ideologia estatista e autoritária do candidato e a visão ultra-liberal de Paulo Guedes, o seu principal assessor econômico, prenuncia inconstância e indefinição em relação à política macroeconômica para lidar com o desequilíbrio fiscal.

A economia brasileira, no limite da falência, não aguenta mais conviver com tamanha incerteza.

Ao contrário de Bolsonaro, o que assusta no caso de uma vitória de Fernando Haddad, candidato do PT- Partido dos Trabalhadores, é a certeza de uma política macroeconômica expansionista que ignora completamente o desmantelo das finanças públicas que, diga-se de passagem, foi provocado pela irresponsabilidade fiscal dos últimos governos petistas.

Na ânsia de rejeitar tudo que o governo Michel Temer realizou de positivo (deformado pelas narrativas falsas), em consonância com o seu programa de governo, Haddad ignora a crise da Previdência, e a necessidade de uma profunda reforma do sistema, e promete revogar o teto dos gastos públicos, dois pilares fundamentais para deter o ciclo inercial de expansão das despesas primárias.

A não ser que um novo governo petista abandone o programa de governo e faça um novo estelionato eleitoral, o Brasil mergulhará numa crise econômica tão profunda que os brasileiros vão sentir saudades de Michel Temer.

Lamentavelmente, o eleitorado brasileiro está tão dominado pelas paixões políticas, dividido entre a rejeição a Lula e o desprezo ao reacionário capitão, que não parece interessado nas decisões que vão definir o rumo da economia.

E, no entanto, o futuro do Brasil depende, antes de tudo, da política macroeconômica que será implementada a partir de 2019 para lidar com a crise econômica e que passa, necessariamente, pelo reequilíbrio das contas públicas.

Sem isso, tudo mais perde relevância.

Sérgio C.

Buarque é economista