Passada a centralidade do debate presidencial em torno do ataque sofrido por Jair Bolsonaro no último dia 6, ganharam projeção no Twitter, desde sexta-feira (14), outras duas temáticas: as discussões em torno do chamado voto útil e, relacionada a esta, o voto de mulheres.

A criação, e posterior invasão, de uma página no Facebook de mulheres contra Bolsonaro, no fim de semana, impulsionou o uso de hashtags como #elenão, usada para manifestar oposição ao candidato, mas também por apoiadores que reagiram em defesa do deputado do PSL.

De acordo com o estudo da FGV, esse debate ampliou uma discussão que já ganhava espaço na rede, à medida que saem novas pesquisas de intenção de voto e discute-se qual candidato seria mais forte para enfrentar Bolsonaro em um segundo turno.

O mapa de interações sobre os presidenciáveis, construído com cerca de 2,5 milhões de retuítes coletados de sexta (14) a segunda (17), mostra a presença de sete grupos principais.

Em todos eles, o debate apresenta nuances das duas temáticas.

Maior grupo em número de perfis (39,6%) e terceiro maior em interações (13,2%), o grupo rosa tem entre os tuítes de maior repercussão críticas a Bolsonaro e a seus seguidores e que discutem quem teria mais chances de vencê-lo: Ciro Gomes ou Fernando Haddad.

Algumas publicações divulgam ou cobram de artistas e marcas seus posicionamentos em relação ao deputado federal.

A invasão da página “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” no Facebook também se destaca, junto a acusações contra o presidenciável e parte de seus apoiadores.

O grupo azul, que manifesta amplo apoio a Bolsonaro, é o segundo em número de perfis (21,2%), mas é o que gera mais retuítes: 49,4%.

Nele, Bolsonaro é o principal influenciador, com destaque para publicações de sua conta oficial que abordam sua recuperação, criticam o PT e afirmam que não há divisão interna em sua campanha.

São recorrentes mensagens de mulheres em apoio ao candidato e em oposição ao movimento #elenão, além de postagens de elogio ao que consideram ser uma postura honesta em uma campanha com poucos recursos.

Com publicações de apoio a Fernando Haddad, o grupo vermelho (15,7% dos perfis e 22,2% das interações) traz como principais influenciadores o candidato do PT, Manuela D’Ávila, Lula e Lindbergh Farias.

A entrevista de Haddad ao “Jornal Nacional” é o tema mais recorrente nas principais publicações, que fazem críticas ao jornalista William Bonner.

Também há comparações entre a investigação do assassinato de Marielle Franco e a do atentado a Bolsonaro, além de críticas a este e a seu vice, general Hamilton Mourão.

Parte das publicações questiona o voto útil em Ciro, destacando a subida de Haddad nas pesquisas.

O grupo laranja (5,7% dos perfis e 2,7% das interações) é constituído em torno de dois grandes influenciadores: João Amoêdo e Danilo Gentili.

O candidato do Novo aparece principalmente em razão de publicações em que critica os partidos de esquerda, o voto útil e os “privilégios” dos políticos.

Já o humorista teve grande repercussão devido aos tuítes em que critica e ironiza feministas, questionando por que não votam em Marina Silva e sugerindo que elas decidiram o voto por “obediência” a Lula.

A polêmica envolvendo o apresentador aparece também nos grupos anteriores, ora em menções de apoio (azul), ora em críticas (rosa e vermelho).

O grupo roxo (4,1% dos usuários e 4,2% dos retuítes) reúne, majoritariamente, perfis de apoiadores de Ciro Gomes.

Entre as publicações com maior repercussão destacam-se as que ressaltam que, para derrotar Bolsonaro, a melhor alternativa seria Ciro, uma vez que Haddad sofreria com o “antipetismo” no segundo turno.

O candidato do PDT é um dos influenciadores do grupo, especialmente em publicações sobre suas agendas.

A discussão entre Ciro e um repórter em Roraima, no fim de semana, aparece em tuítes que acusam o jornalista de ter agido com a intenção de provocar o presidenciável.

Principal influenciadora do grupo verde (3,1% dos perfis e 3,1% de interações), Marina Silva classifica o ataque à página contrária a Bolsonaro no Facebook como um “ato autoritário e inaceitável” e critica as declarações do general Mourão sobre a criação de filhos em lares em que não há figura masculina.

Marina também se apresenta como opção de voto com a hashtag #elasim e usa tom conciliador, ao dizer que não abandonaria legados do PT e do PSDB caso eleita.

Geraldo Alckmin também aparece no grupo ao afirmar que é a melhor opção de voto para os eleitores que querem evitar um governo do PT.