Não há evidências de que publicações das redes sociais que atribuem 45% ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) sejam resultado de uma pesquisa eleitoral confiável, como aponta investigação do Projeto Comprova.
Os posts que divulgam a pesquisa afirmam que Bolsonaro estaria perto da vitória no primeiro turno.
De acordo com a legislação eleitoral, enquetes do tipo não são válidas, pois não cumprem uma série de exigências, como a divulgação de dados e metodologia, o registro oficial e prestação de contas.
Uma das versões da publicação diz que a pesquisa foi feita pela “agência americana que previu com exatidão a vitória de Trump nos EUA”.
Não há evidência que a Encuestas Digitales é americana nem que previu a vitória eleitoral de Trump.
As postagens incluem um gráfico, no qual nenhum dos outros candidatos alcança 10%, que tem origem no site Encuestas Digitales.
O site diz que realiza pesquisas eleitorais com métodos modernos, diferente do que chama de “pesquisas tradicionais” e que analisa redes sociais e buscas na internet para determinar os índices dos candidatos, mas não divulga dados detalhados nem a metodologia utilizada.
Leia mais Pesquisa atribuída ao Datafolha que diz que “desejo de votar em Lula chega a 49%” é falsa Pesquisa que mostra Bolsonaro vencendo em todos os Estados é falsa Uma explicação encontrada no site Encuestas Digitales detalha que os números atribuídos a cada candidato não representam intenções de voto, como é o caso das principais pesquisas eleitorais.
Diz apenas que os números retratam uma “projeção de vitória”, sem deixar claro o que isso significa.
Segundo o site, o serviço está baseado numa metodologia mais sofisticada e semelhante a do site de jornalismo de dados americano FiveThirtyEight sem, no entanto, deixar claro o que seria essa versão mais aprimorada da apuração das informações.
Além disso, pesquisas digitais não representam os 39% da população que ainda não tem acesso à internet, como mostra a Pesquisa TIC Domicílios, apresentada em julho deste ano pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br).
Ao utilizar um serviço que verifica os dados dos endereços (URL) dos sites, como o IP Checker, foi constatado que o domínio “www.encuestasdigitales.com” foi criado no dia 30 de julho de 2018, com validade até 2019.
A primeira pesquisa relativa ao Brasil foi publicada pela suposta empresa em agosto.
O site Politz também publicou a pesquisa feita pelo Encuestas Digitales, afirmando que o tracking acertou previsões da vitória de Donald Trump e do Brexit.
No entanto, o presidente americano foi eleito em 2016 e a saída britânica da União Europeia (Brexit) foi aprovada em referendo também em 2016.
Ou seja, antes do registro do site Encuestas Digitales.
O site Encuestas Digitales tem erros básicos de texto em espanhol e não deixa claro qual é a sua metodologia de trabalho e quem são seus clientes.
Também não há disponível nenhum ponto de contato com a organização.
Até o dia 13 de setembro, ao menos três publicações com o gráfico da pesquisa tiveram grande repercussão em páginas no Facebook: “Movimento Avança Brasil” (mais de mil compartilhamentos, publicado em 10 de setembro); “Mulheres Unidas A FAVOR do Bolsonaro” (mais de 17 mil compartilhamentos, publicado em 12 de setembro); e “Jair Bolsonaro 2018, a última Esperança da Nação” (mais de de 4.,9 mil compartilhamentos, publicado em 12 de setembro).
Projeto Comprova Iniciado neste mês de agosto, o projeto Comprova já desenvolve suas operações de combate à desinformação e a conteúdos enganosos na internet durante a campanha eleitoral.
Coordenada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a coalizão reúne 24 organizações de mídia de todo o Brasil, e checa textos, imagens e áudios sem origem definida.
Nenhum conteúdo poderá ser publicado até que três diferentes redações concordem com as etapas de verificação anexadas ao relatório sobre uma informação avaliada, em um processo conhecido como “crosscheck”.
O objetivo do projeto é identificar e minar técnicas sofisticadas de manipulação e amplificação online.
O fluxo de trabalho foi projetado para incentivar a investigação colaborativa entre redações, que poderão continuar após as eleições. É possível sugerir checagens pelo WhatsApp da iniciativa, no número (11) 97795-0022.